domingo, 30 de abril de 2017

Encontros Improváveis- Cecília Meireles e The Chameleons - "Lufthansa"


A little rain's going to keep on falling on me
I'm going to keep on calling to you

I'm in a spin
I won't let this darkness in
Turning around
Grinning as I leave the ground
Wanting it all
I'm tearing right through that wall
Once and for all
I'm tearing right through that wall
Taking it out

A little rain's going to keep on falling on me
I'm going to keep on calling to you
A little rain's going to keep on falling on me
I'm going to keep on calling to you
I'm going to keep on calling to you
I'll keep on calling to you

I'm in a spin
Spinning at the speed of sound
I'm in a spin
Hanging with the lost and found
I'm on fire
Rushing all the way to you
I'm on fire
Rushing all the way to you
Checking it out

A little rain's going to keep on falling on me
I'm going to keep on calling to you
A little rain's going to keep on falling on me
I'm going to keep on calling to you

I'm going to keep on calling to you
(A little rain's going to keep on falling)


"Vou pelo braço da noite,
levando tudo que é meu:
— a dor que os homens me deram,
e a canção que Deus me deu. "

Cecília Meireles, in 'Viagem'

Sobre Chameleons
The Chameleons [wiki]
The Chameleons [youtube]
The Chameleons [página oficial]

sábado, 29 de abril de 2017

Crónica de Nuno Bederode Santos- O Ogre e as Sandes


Estacionei o carro no parque do hotel. Era cedo, havia mais de meia hora para matar. Passei ao "lobby", vi o bar e entrei. Sentei-me ao balcão, no único lugar disponível. Mas não pedi nada, aguardando que se resolvesse um qualquer contencioso entre um empregado contido, paciente e amável, e um feiíssimo cavalheiro que parecia um ogre da Tasmânia e que barafustava em voz alta contra não sei quê, num inglês que, porque rápido, chegava a parecer fluente, mas afectado de um sotaque tão carregado e estranho que o tornava ininteligível.
Aos poucos, fui começando a entendê-lo. Protestava – e com moderada razão – contra o facto de só haver sandes de queijo, fiambre e mistas. E começava já a olhar para mim de vez em quando, fugazmente, procurando porventura o meu apoio naquela guerra que me era alheia.
"Nem sequer têm sandes de pepino!" – disse-me de supetão, aproveitando a pausa proporcionada pelo empregado me estar a servir um "scotch" com água, que eu entretanto conseguira encomendar. Estava estabelecido o diálogo, mesmo que eu não o desejasse. Não se deixa sem resposta quem se nos dirige directamente.
Expliquei-lhe então que, muito embora usássemos o pepino na nossa culinária, não era um hábito português fazer sandes com ele. À semelhança, aliás, ainda que apenas do que dela conheço, da restante Europa continental. Só mesmo em Inglaterra é que há a tradição e o culto de tão duvidoso pitéu.
Sabia que podia falar de europeus à-vontade porque o ogre, pela tez, o atavio e o sotaque só podia ser levantino. Tive, de resto, ocasião para lhe perguntar pelas origens e ele respondeu-me: "Sou egípcio, mas vivo em Londres. Trabalho lá."
O mais irritante é que ele pontuava a conversa com os mais soezes vilipêndios ao empregado, apenas portador da má nova de não haver sandes de pepino. E isso, fui-me apercebendo, já instalara no resto do pequeno balcão uma vertigem retaliadora. Como qualquer político caído, que quer cavalgar uma vaga de fundo que lhe devolva o que já foi, eu achei que aquela onda era a minha e eu o patriota capaz de a conduzir.
Comecei então a convencê-lo de que, sendo (segundo ele me disse) a sua permanência em Lisboa tão curta, devia aproveitar para comer coisas típicas de cá. Volvendo a Londres, poderia comer as sandes de pepino que quisesse. Mas aqui, onde é de uso fazer e comer as sandes mais invulgares da Europa, isso tinha algum sentido? Os portugueses, virados ao Atlântico e com dois arquipélagos cultivadores de frutas exóticas, gostavam era disso. Sandes disso...
O ogre mostrou-se curioso e interessado. Ainda perguntou por que razão então só constavam da lista queijo e fiambre, mas eu atribuí tudo a um nosso preconceito, segundo o qual os turistas estrangeiros só estavam habituados a essas e não pediam as nossas. Ofereci-lhe então a sandes, argumento que se revelou fortíssimo. Chamei o empregado, expliquei-lhe a situação e – enquanto ele sorria e já se babava de gozo – perguntei o que é que se podia arranjar. Manga? Papaia? Kiwi? Nada. Tudo o que se podia arranjar era meloa... Prebenda dos céus! Não tinha pensado nisso, que excedia o pior da minha perfídia. "Traga então uma meloa, parta-a ao meio e meta essa metade em pão de forma fininho."
Largou para a cozinha numa pressa e com um gemido que era apenas a contenção do riso. Voltou com o pão de forma, de pacote, e com a meloa que abriu a meio e descascou ali bem à nossa frente. Depois, enfiou meia meloa entre duas fatias de pão. Só visto: a meloa transbordava o pão por todos os lados. O egípcio lançou-lhe a mão e os primeiros esguichos espirraram. Mas o grande festival começou com a primeira dentada e quando o pão já estava tão molhado que quase se desfazia. Escancarada a boca, a dentuça abateu-se sobre a sandes tipicamente portuguesa com a determinação de um alfange. Desviei o meu banco bem para o lado mesmo a tempo. A sofrida meloa esvaiu-se em jactos do seu sangue, de refrigerante natural, ao mesmo tempo que um volumoso fio de líquido lhe escorregou a correr pelas barbas grisalhas. A estranha vestimenta ia-se encharcando, mas ele olhava-me de soslaio com um ar apreciativo. A canalha circundante ria-se, o empregado também. O ogre acabou num traste e com as mãos cheias de pão desfeito.
"Muito bom", disse ele. "E ainda comia a outra metade, mas agora talvez sem pão." Que sim, disse eu. E paguei o meu uísque e a sandes de meloa, por entre desvelados agradecimentos. Saí .
Nós, portugueses, somos assim. Uns verdadeiros cavalheiros. E os melhores anfitriões do mundo.
[Texto original publico na Revista do Expresso de 27 de outubro de 2001]

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Marcha mundial do clima, 29 de abril, 15h


Marcha mundial do clima, 29 de abril, 15h - Ambientalistas de Aljezur, Lisboa e Porto juntam-se à edição deste ano da Marcha Mundial do Clima, convocada nos Estados Unidos contra as políticas a favor dos combustíveis fósseis. As três marchas em Portugal vão exigir o fim da prospeção de petróleo na costa portuguesa. Observador.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Um rio no Canadá desapareceu em quatro dias. Culpa do aquecimento global

O rio Slims, antes de o curso de água ter mudado de rumo [Fonte: O Público] 

Um rio no Canadá desapareceu em quatro dias. Culpa do aquecimento global O célere derretimento de um dos maiores glaciares no Canadá, na região de Yukón, fez com que o rio Slims desaparecesse em quatro dias. O fenómeno foi provocado pelo desvio total do curso de água para um outro rio durante o final de Maio do ano passado, ainda que só tenha sido divulgado na revista Nature Geoscience. No artigo científico, estima-se, com 99,5% de certeza, que o derretimento do glaciar e subsequente mudança de rumo do rio são atribuídos às alterações climáticas.

Este fenómeno – em que as águas de um rio são redireccionadas para um novo curso – é conhecido como “pirataria fluvial” (ou river piracy, em inglês). Apesar de os geólogos acreditarem que este fenómeno já tenha acontecido no passado, nunca tinha sido documentado e, sobretudo, nunca tinha acontecido de uma forma tão repentina. “Que saibamos, nunca ninguém tinha documentado isto nos dias de hoje”, disse um dos investigadores, Dan Shugar.

Anteriormente, o rio – que atingia os 150 metros de largura – desaguava no rio Kluane, em direcção ao mar de Bering. Só que o degelo acelerado do glaciar de Kaskawulsh durante a Primavera de 2016 fez com que as águas derretidas fossem redireccionadas para um outro rio, fazendo com que as águas acabem por desaguar perto do Golfo do Alasca, a milhares de quilómetros do seu destino original.
Em suma, as águas derretidas do glaciar não estavam a ser divididas entre os dois rios – como acontecia anteriormente – mas seguiam unicamente numa direcção. Em vez de as águas do rio fluírem para oeste, começaram a jorrar para o sul do país.

terça-feira, 25 de abril de 2017

25 de Abril- A liberdade está na procura do bem (com documentário da Herdade Freixo do Meio)


A liberdade está na procura do bem
O nome liga-o a Álvaro Cunhal, líder carismático do Partido Comunista Português. Mas a família deste Cunhal, Alfredo, é fundadora do BCP, o maior banco privado do país. Nasceu nesta contradição e apenas quer ser um agricultor consciente, que prescinde do lucro. Alfredo diz que a sua liberdade está na procura do bem. Ver a reportagem da SIC Notícias da história de Alfredo Cunhal e o seu projecto de agricultura biológica e que conta uma das formas de se ser livre 40 anos depois da queda da ditadura. Filmado e dirigido por Serena Aurora em 2015, procurando a internacionalização do belo exemplo do projeto Herdade do Meio e manter um sistema vivo e sustentável.


Freixo do Meio is the project of a man that became a sustainable reality for many beings. It is a big organic farm and organism, integrating with the sourrounding Montado, a typical ecosystem from Alentejo, Portugal. The presence of human beings here wants to be a peaceful cooperation which welcome and arouse biodiversity. In this visual summery, Alfredo, manager of this ecosystem, starts explaining his philosophy which lays as a basis on his way of farming. In this open view, a circle of people works in the puzzle of nature, in a balance which allows production without exploitation of resources (agroecology). In the video we see people and their various skills, Cooperation, ecofunctionality, managing the risks, as well as a biodinamic approach. The production of the farm flows to Alfredos farm shop in Lisbon, to allow a honest economy which grant the workers to be paid. Alternative projects are included: beekeeping, permaculture, medicinal garden, and a horse-riding school. In the end it´s shown how Sorraias horses (indigenous ancient breed) are respected and kept wild in their ecosystem. This video is an example of how man can act in a sensitive way, contributing with local production and environment protection.

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Universidade Nova tem o melhor mestrado do mundo

Gestão do Conhecimento e Business Intelligence - é este o melhor mestrado do mundo, ministrado pela NOVA Information Management School.


O ranking é de Eduniversal, uma agência internacional que publica o ranking dos melhores mestrados e MBA. Pela primeira vez, uma escola portuguesa consegue chegar ao primeiro lugar. O mestrado em Gestão de Informação, com especialização em Gestão do Conhecimento e Business Intelligence, foi considerado o melhor na sua categoria.

“Este reconhecimento tem impactos muito positivos na imagem do País, sobretudo numa área tecnológica e muito competitiva. Além disso, é um enorme estímulo para a universidade e é também importante para as empresas, pois significa que estamos a formar, em Portugal, profissionais ao mais alto nível”, referiu, à TSF, Pedro Simões Coelho, diretor da NOVA IMS, que é a escola de gestão e informação desta universidade pública.

Com mais de 1 500 alunos, a IMS tem estudantes de 70 diferentes nacionalidades, o que, de acordo com Pedro Simões Coelho, “mostra bem a internacionalização e a capacidade atrativa” da escola.
“Os resultados deste ranking estão associados à nossa orientação estratégica para a qualidade e à procura permanente de oportunidades de inovação. Resultam igualmente de uma política de ensino adaptada aos reais interesses e necessidades dos alunos e às necessidades do mercado”, continua o diretor, agora em comunicado.

A Eduniversal avalia mais de 12 mil programas de ensino pós-graduado, distribuídos por 30 áreas de estudo. A IMS destacou-se ainda pelo Mestrado em Estatística e Gestão de Informação, com especialização em Marketing Research e CRM, que foi considerado o segundo melhor do mundo na categoria de e-business.

domingo, 23 de abril de 2017

Cheias de 1967 - entrevista com o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles


As cheias de 1967 terão sido a maior calamidade algesina desde o terramoto de 1755, tendo em conta a sua participação nos projectos de urbanização do vale de Algés, não haverá melhor pessoa para avaliar as causas e apontar os erros que a provocaram do que o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles [1][2]. A entrevista é dos arquivos da RTP e remonta a 1973, altura em que a urbanização de Miraflores e vale de Algés estava já a ser implementada há alguns anos. 44 anos depois, analisando a explicação de arquitecto as preocupações com que fico são muitas, ainda mais se considerarmos que tudo o que foi construído depois segue exactamente contra o que se seria correcto ter sido feito. As recentes construções do quartel dos Bombeiros Voluntários de Algés, do novo centro de saúde e de várias escolas em leito de cheia e em zona de perigo de tsunamis são um perigo a considerar ainda mais não existindo ainda o tão falado sistema de alerta de tsunamis, cataclismo que ameaça seriamente Lisboa e as zonas das suas ribeiras. Nada mais claro do que as sábias palavras do grande arquitecto que é Gonçalo Ribeiro Teles, o perigo existe ainda e será porventura mais grave do que em 1967 caso se venham a verificar os mesmo níveis de intensidade das chuvas na região de Lisboa. A recente autorização camarária de construção de uma nova urbanização em Miraflores com 1600 fogos de habitação irá agravar ainda mais esta situação pondo em sério risco todas as habitações na baixa de Algés, uma vez que irá servir de bloqueio ás águas provenientes da encosta do Alto do Duque.

[1] arquitecto paisagista, ecologista e político português. Foi Subsecretário de Estado do Ambiente nos Governos Provisórios de Adelino da Palma Carlos e Vasco Gonçalves e Ministro de Estado e da Qualidade de Vida do VII Governo Constitucional (AD, Francisco Pinto Balsemão), de 1981 a 1983. Criou as zonas protegidas da Reserva Agrícola Nacional, da Reserva Ecológica Nacional e as bases do Plano Director Municipal de Lisboa. Entre os seus projectos, são de assinalar o projecto de Urbanização do vale de Algés, o espaço público do Bairro das Estacas, em Alvalade; os jardins da Capela de São Jerónimo, no Restelo; a cobertura vegetal da colina do Castelo de São Jorge; os jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, que assinou com António Viana Barreto e [2] — recebendo, ex aequo, o Prémio Valmor de 1975 —; o Jardim Amália Rodrigues, junto ao Parque Eduardo VII, em 1996; e o conjunto de projectos que concebeu, entre 1998 a 2002, por solicitação da Câmara Municipal de Lisboa, das estruturas verdes principal e secundária da Área Metropolitana de Lisboa, e que se encontram hoje em diferentes fases de implementação: o Vale de Alcântara e a Radial de Benfica, o Vale de Chelas, o Parque Periférico, o Corredor Verde de Monsanto e a Integração na Estrutura Verde Principal de Lisboa da Zona Ribeirinha Oriental e Ocidental. Em Abril de 2013 foi galardoado com o Prémio Sir Geoffrey Jellicoe, a mais importante distinção internacional no âmbito da arquitectura paisagista.

Musica do BioTerra: MIRRAR- Addicted



sexta-feira, 21 de abril de 2017

Danificados em dois anos 1.500 quilómetros da Grande Barreira de Coral

© Reuters Danificados em dois anos 1.500 quilómetros da Grande Barreira de Coral

Cerca de 1.500 quilómetros da Grande Barreira de Coral australiana, ou dois terços desta, ficaram danificados após dois anos consecutivos de branqueamento de corais, informaram hoje fontes científicas.

"O impacto combinado deste branqueamento consecutivo estende-se ao longo de 1.500 quilómetros, deixando um terço situado a sul ileso", disse o diretor do Centro de Excelência de Estudos de Coral da Universidade James Cook, Terry Hugues, num comunicado daquela instituição de ensino superior.
Em 2016, o branqueamento causado por um aumento das temperaturas das águas acima da média, combinado com os efeitos do fenómeno do 'El Niño', afetou sobretudo a parte norte da Grande Barreira, situada frente às costas da Austrália.

"Este ano, em 2017, estamos a viver um branqueamento maciço, inclusivamente sem a implicação das condições de um fenómeno do 'El Niño'", disse Hughes, ao referir-se aos resultados deste estudo, semelhante ao trabalho realizado em 2016 na Grande Barreira, que viveu fenómenos similares em 1998 e 2002.

"Os corais descolorados não são necessariamente corais mortos, mas na região central afetada severamente, antecipamos que se registaram altos níveis de perda de corais", disse James Kerry, que também participou nas investigações. Kerry, do centro de estudos de coral, também explicou que os corais demoram cerca de uma década para recuperarem completamente, tendo sublinhado que "um branqueamento maciço que ocorre com 12 meses de intervalo oferece zero possibilidades de recuperação para aqueles corais danificados em 2016".

Para agravar a situação, estima-se que a passagem do ciclone tropical Debbie, que atingiu o nordeste australiano no final de março, danificou o corredor de 100 quilómetros de largura por onde passou.
"Provavelmente, qualquer efeito de arrefecimento relacionado com o ciclone será insignificante em relação ao dano que este causou, já que infelizmente atingiu uma parte do recife que tinha escapado à pior parte do branqueamento", disse Kerry, no mesmo comunicado.

Os cientistas lamentaram que a Grande Barreia de Coral esteja a enfrentar diversas situações com um impacto negativo na sua saúde, especialmente os danos causados pelas alterações climáticas, pelo que instaram os governos a reduzir as emissões poluentes.

A Grande Barreira de Coral começou a deteriorar-se na década de 1990 pelo duplo impacto do aquecimento da água do mar e do aumento da respetiva acidez pela maior presença de dióxido de carbono na atmosfera.

Declarada Património da Humanidade pela UNESCO [Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura], a Grande Barreira de Coral contém cerca de 400 tipos de coral, 1.500 espécies de peixes e quatro mil variedades de moluscos, e já chamou a atenção de líderes mundiais como o ex-Presidente dos Estados Unidos Barack Obama, que pediu a proteção da mesma com medidas contra as alterações climáticas.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Encontros Improváveis- Aldous Huxley e Nigel

Arte de Rua em São Paulo, por Nigel

"A ditadura perfeita terá as aparências de uma democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros sequer sonharão com a fuga. Um sistema de escravatura onde graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravatura." ~ Aldous Huxley

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Participação de Leonardo Boff e suas reflexões entre esquerda e direita

Leonardo Boff não é somente um teólogo limitado às questões do mundo metafísico da religião, é também filósofo e escritor que interpreta de forma muito particular a vida política brasileira (e internacional). “No mundo inteiro há uma ascensão da direita. E a direita não tem sonhos, só tem força e violência. (…) Vocês são aqueles condenados a ter sonhos, porque vocês são violados, desprezados e humilhados. E a defesa de vocês é sonhar um outro mundo, não só diferente, mas um mundo necessário.”

Leonardo Boff esteve em Curitiba esta semana e conversou com Popolo Filmes sobre conjuntura política, a ascensão da direita e a resistência dos movimentos sociais, o futuro da América Latina e o nosso papel na luta contra o neoliberalismo no continente.


“A gente não deve esquecer que durante trinta anos vivemos no inverno eclesial. Dois Papas conservadores que pregavam doutrinas. E esse Papa vem e diz: “Jesus não veio criar uma religião, tinha muitas na época. Ele veio nos ensinar a viver, sermos solidários, um perdoar o outro. Criar uma rede de vontade de transformação do mundo". Essa ideia vem confirmar tudo o que a Teologia da Libertação há trinta anos vem dizendo. (…) E está escandalizado os europeus que dizem: "Agora quem assessora os Papas são os teólogos da libertação!"


"Esse golpe está desmontando a nação. E está penalizando principalmente os pobres, os trabalhadores. (…) É um golpe de classe que usou o parlamento, usou a justiça, para novamente ocupar o Estado e para se beneficiar dos grandes projetos nacionais, fragilizar todos os movimentos sociais e difamar as lideranças. (…) É um golpe contra o povo brasileiro."


“Nós podemos fazer essa Frente Ampla. Porque se não fizermos eles vão realizar o projeto deles até o fim. Desmontando a nação, fazendo dela um agregado menor, associada ao grande império, perdendo a nossa soberania, um projeto nosso. E somos um dos poucos países do mundo que pode ter um projeto soberano pela riqueza ecológica, pelas águas, por um povo inteligente e criativo aberto ao mundo. Nós temos todas as condições. E somos a sétima economia do mundo, com um mercado interno enorme, capacidade de industrialização… mas mais ainda de criar uma produção ligada a natureza, que respeito os ciclos. (…) Nós não podemos renunciar a essa base que nos permite um país soberano, aberto ao mundo, que pode ser a mesa posta para as fomes do mundo inteiro.”

Zika, Pesticidas e o Mosquito Transgénico- pyriproxyfen é a verdadeira causa da microcefalia, não dá mais para esconder.

O que mais me irrita é como andamos "distraídos"...é de 2016. E deixamos que mordam e amordacem as nossas mentes.
O larvicida que contem pyriproxyfen é a talidomida versão séc.XXI, amigos. Isto é sério demais.

English: REPORT from Physicians in the Crop-Sprayed Town regarding Dengue-Zika, microcephaly, and massive spraying with chemical poisons


Español: Informe de Medicos de Pueblos Fumigados sobre Dengue-Zika y fumigaciones con venenos química

Para acceder al informe en pdf para imprimir, haga click aqui: Informe Zika de reduas (792)

Doctors name Monsanto’s larvicide as potential cause of microcephaly in Brazil:
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Componente químico Pyriproxyfen é apontado como causa da microcefalia
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Nem o Zika vírus e nem vacinas, para a Organização dos Médicos Argentinos o grande surto de microcefalia que se abateu sobre o Brasil é causado por um químico larvicida chamado Pyriproxyfen colocado na água ou pulverizado nas cidades afetadas pelo surto de microcefalia.

O relatório da entidade é enfático ao dizer que não é coincidência os casos de microcefalia surgirem na áreas onde o governo brasileiro fez a aplicação do Pyriproxyfen diretamente no sistema de abastecimento de água da população, mais especificamente em Pernambuco.

Componente químico Pyriproxyfen é apontado como causa da microcefalia


“O Pyroproxyfen é aplicado diretamente pelo Ministério da Saúde nos reservatório de água potável utilizados pelo povo de Pernambuco, onde a proliferação do mosquito Aedes é muito elevado ( uma situação semelhante à das ilhas do Pacífico ). (…) Malformações detectadas em milhares de crianças de mulheres grávidas que vivem em áreas onde o Estado brasileiro acrescentou Pyriproxyfen à água potável não é uma coincidência, apesar do Ministério da Saúde colocar a culpa direta sobre o Zika vírus para os danos causados (microcefalia).”, revela o relatório na página 3.

O relatório também observou que o Zika tem sido tradicionalmente considerado uma doença relativamente benigna, que nunca foi associada com defeitos congênitos, mesmo em áreas onde infectou 75% da população.


Posição da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco)

O  relatório argentino, que também aborda a epidemia de dengue no Brasil, concorda com as conclusões de um relatório separado sobre o surto Zika feito por médicos brasileiros e pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco.

A Abrasco também aponta o Pyriproxyfen como causa provável da microcefalia. A associação condena a estratégia de controle químico para frear o crescimento dos mosquitos portadores do Zika vírus. A Abrasco alega que tal medida está contaminando o meio ambiente, bem como pessoas e não está diminuindo o número de mosquitos. Para a Abrasco esta estratégia é, de fato, impulsionada por interesses comerciais da indústria química, a qual diz que está profundamente integrada com os ministérios latino-americanos de saúde, bem como a Organização Mundial de Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde.

Abrasco nomeou a empresa britânica Oxitec que produz insetos geneticamente modificados como parte do lobby empresarial que está a distorcer os fatos sobre o Zika vírus para atender a sua própria agenda com fins lucrativos.

A Oxitec vende mosquitos transgênicos modificados para esterilidade e os comercializa como um produto de combate à doença – uma estratégia condenada pelos médicos argentinos, tida como “um fracasso total, exceto para a empresa fornecedora de mosquitos”.

Vale lembrar também que o Zika vírus é propriedade da família/Fundação Rockefeller, conforme relatado pelo Panorama Livre no dia 31 de janeiro. Além, claro, da ONU já ter declarado que países com casos de microcefalia deveriam liberar o aborto – deixando claro a todos o enorme número de entidades envolvidas no lobby do controle/diminuição populacional.



PANORAMALIVRE
Zika vírus é propriedade da família Rockefeller
Leia mais aqui

Zika Vírus está a venda por €599.00 e o nome do depositário é “J. Casals, Rockefeller Foundation”. Outro fato que chama atenção é que a data de origem do Zika Vírus é o ano de 1947

Eis o link da página do órgão que comercializa o Zika Vírus:


Quem fabrica o Pyriproxyfen?

Os médicos acrescentaram que o Pyriproxyfen é fabricado pela Sumitomo Chemical, empresa japonesa e um “parceiro estratégico” da Monsanto. O Pyriproxyfen é um inibidor do crescimento de larvas de mosquitos, que altera o processo de desenvolvimento da larva, a pupa (estágio intermediário entre a larva e o adulto, no desenvolvimento de certos insetos), para adulto, gerando, assim, malformações no desenvolvimento dos mosquitos e matando ou desativando seu desenvolvimento. O composto químico atua como um hormônio juvenil de inseto e tem o efeito de inibir o desenvolvimento de características de insetos adultos (por exemplo – as asas e genitais externos maduros) e o desenvolvimento reprodutivo. É um disruptivo endócrino e é teratogênico (causa defeitos de nascimento), de acordo com os médicos.

Em dezembro de 2014 a Sumitomo Chemical anunciou que, juntamente com a Monsanto, expandiria seus trabalhos de controle de pragas para a América Latina, mais especificamente para Brasil e Argentina.





Outras leituras


terça-feira, 18 de abril de 2017

Documentários sobre Nietzsche, Heidegger e Sartre que você deveria assistir

A série da BBC  ‘Humano, Demasiado Humano’ (Human All Too Human) inclui três programas fantásticos sobre Friedrich Nietzsche, Jean Paul Sartre e Martin Heidegger, um trio de pensadores controverso que continuam influenciando até os dias de hoje, na filosofia e na psicologia. A série aborda os personagens e suas teorias. Vale assistir cada minuto, são três programa envolventes e emocionantes sobre a filosofia e os filósofos.


Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 -1900) foi um filósofo alemão do século XIX e um dos maiores nomes dessa área. Martin Heidegger (1889 – 1976) foi um filósofo alemão do século XX que influenciou muitos outros, dentre os quais Jean-Paul Sartre. Jean-Paul Sartre (1905 -1980) foi um filósofo francês, conhecido como representante do existencialismo.
Os documentários são conduzidos por Alain de Botton, escritor e produtor famoso por popularizar a filosofia e divulgar seu uso na vida cotidiana. Botton iniciou um Ph.D em filosofia francesa em Harvard, mas acabou preferindo escrever ficção. Para além de escrever possui a sua própria produtora, a Seneca Productions, que transmite regularmente programas e documentários de televisão, baseados nos seus trabalhos.
Documentário I: Humano, Demasiado Humano – Friedrich Nietzsche: Além do Bem e do Mal
A semente do pensamento disseminado por Nietzsche no século XIX prefigurava o piloto do século XX sobre os conceitos do existencialismo e da psicanálise. Este programa conta com entrevistas de grandes estudiosos do pensamento do Nietzsche sendo eles: Ronald Hayman e Leslie Chamberlain (biógrafos de Nietzsche), Andrea Bollinger (arquivista), Reg Hollingdale (tradutor), Will Self (escritor) e Keith Ansell Pearson (filosofa) que sonda a vida e os escritos de Nietzsche. Além de mostrar também o papel da irmã de Nietzsche na edição das suas obras para o uso como propaganda nazi. Conta também com partes de prosas aforísticas extraídas de obras como a parábola de um louco e assim falou Zaratustra.



Documentário II: Humano, Demasiado Humano – Martin Heidegger: Projeto Para Viver
O projeto do tratado Ser e Tempo, foi publicado em 1927 no mesmo ano que Minha Luta (Adolf Hitler). Este programa examina a vida e a filosofia de Martin Heidegger, descreve a sua ascensão a proeminência intelectual, expondo os motivos do seu envolvimento no partido Nazi. Entrevistas com o seu filho, Hermann Heidegger, George Steiner autor de uma influente critica da sua filosofia, contado também com o seu biógrafo Hugo Ott; e ex-aluno de Hans-Georg Gadamer, fornecem novas ideias enquanto se faz uma reconstrução dos momentos chaves da vida de Heidegger. Vida e história de um homem cujos apologistas e os antagonistas ainda amargamente se dividem.



Documentário III: Humano, Demasiado Humano – Jean-Paul Sartre: O Caminho Para a Liberdade
Neste episódio é abordada a vida e a obra do mais famoso filósofo existencialista europeu, Jean-Paul Sartre (1905-1980). O homem que passou a vida a desafiar a lógica convencional amava os paradoxos. O documentário expõe estes paradoxos da sua vida e da sua obra, ao mesmo tempo em que ambos são questionados. A pergunta central que é colocada é: Se o ser humano é livre para fazer o que quiser, como justifica Sartre, então como devemos viver as nossas vidas no dia-a-dia?


Fonte: Revista Prosa Verso e Arte

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Alberto Carneiro, inventor de mundos, escultor da natureza

Nasceu na aldeia de São Mamede do Coronado, na Trofa, e, sem nunca a abandonar verdadeiramente, viajou mundo fora para se tornar um dos mais importantes escultores portugueses. A morte chegou aos 79 anos.

Era um dos mais importantes escultores portugueses, autor de um corpo de obra em que arte e vida são indissociáveis e dotado de uma voz única em que a ruralidade e a proximidade à natureza — consequência do nascimento, em 1937, na aldeia de São Mamede do Coronado, concelho da Trofa — se aliava ao estudo e profundo envolvimento com a filosofia oriental (Zen, Tantra, Tao). Alberto Carneiro morreu este sábado, aos 79 anos, no Hospital de S. João, no Porto, onde estava internado. A notícia foi confirmada ao PÚBLICO pela família do escultor.

Foto Alberto Carneiro na Fundação Serralves, 2013 Paulo Pimenta

Alberto Carneiro, o escultor para quem arte e vida eram uma só coisa. “Se tivesse nascido na cidade, se tivesse vivido a minha primeira infância na cidade, a minha obra não seria o que é. Nem eu, provavelmente, me teria encontrado com este mundo”, dizia em entrevista publicada na 2, revista do PÚBLICO, em 2013. “Sendo a mesma pessoa, fisicamente, o mesmo nariz, as mesmas orelhas, não seria o mesmo. A minha sensibilidade foi construída numa relação directa com essas coisas. Aprendendo a amar essas coisas. E não as dispensando”. A consciência da importância desta origem na sua formação e na forma de olhar o que o rodeava foi fundamental no seu percurso artístico, iniciado em 1947 numa oficina de santeiro onde trabalharia 11 anos.

A relevância dessas raízes é igualmente enaltecida pelo subdirector do Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia, em Madrid (e ex-director do Museu de Serralves), João Fernandes, que em declarações ao PÚBLICO fala dessa "coragem" do artista em "assumir o seu conhecimento dos rituais camponeses e agrícolas, e levá-los para um processo de apropriação e transformação da natureza", acabando por nessa dinâmica "levar a natureza para dentro dos museus e galerias, criando novas experiências sensoriais onde o espectador deixava de o ser para passar a ser participante da obra". Na sua visão, Alberto Carneiro "é o caso surpreendente de um homem que se faz artista sem nunca deixar de ser homem na sua plenitude, inventando novas formas de pensar, agir e reinventar a relação da arte com a vida e da arte com o mundo."

O percurso de João Fernandes está, aliás, ligado ao de Alberto Carneiro. "A primeira exposição que fiz, em 1992, chamava-se Sortilégios e foi uma sugestão dele", na qual participaram também Gerardo Burmester e Albuquerque Mendes. "Para mim foi importante na altura trabalhar com alguém que havia sido um pioneiro e que abriu muitos caminhos. O Alberto foi um dos artistas que me estruturaram na forma de pensar e agir", afirma, argumentando que a sua originalidade no contexto da arte portuguesa, "onde é pioneiro das linguagens conceptuais", como no plano internacional, continua em parte por avaliar. "Ainda existe muito por pensar acerca da universalidade da sua obra, principalmente no contexto internacional, onde o seu trabalho ainda não foi tão difundido como seria desejável. Ele é muito singular", avalia. "Veio de um contexto rural, de uma aldeia onde trabalhou em criança como aprendiz a fazer imagens de santos para as igrejas e aproveitou depois a sua extraordinária habilidade com as mãos. Em Londres confrontou-se com linguagens de âmbito internacional, mas em parte quando ele sai das Belas Artes do Porto já estava a caminho de construir uma linguagem própria, da qual resultaria uma obra original, que ainda deverá ser avaliada no contexto das linguagens da época que cruzam a arte com a natureza e a vida."

Algo semelhante diz o artista plástico José Pedro Croft ao PÚBLICO. "Toda a sua produção ao longo dos anos foi única, muito para além das nossas fronteiras. Ele era um homem do mundo, no sentido em que o universal é o local sem fronteiras", afirma. "Tinha uma relação muito forte com a natureza que marcou muito a relação que ele tinha do corpo, e do envolvimento do corpo, no trabalho directo que fazia. O seu olhar era absolutamente revolucionário, tendo acompanhado todos os movimentos dos anos 1970." Para além dessa dimensão e do seu trabalho individual, José Pedro Croft destaca o seu enorme apoio aos colegas. "Ao longo de décadas, com o parque de esculturas de Santo Tirso, foi organizando, cuidando, tratando e convidando outros artistas e fazer um trabalho que é único."

O artista plástico e escultor Carlos Nogueira diz ao PÚBLICO que a sua morte "é uma perda irreparável", enaltecendo "um artista maior e um professor maior, que ao longo dos anos foi igual a si próprio, tendo encontrado o seu caminho, que trilhou numa procura permanente de novos passos e novos saltos." E conclui: "Foi um autor incansável que trabalhou até aos últimos dias. Cultivemos a sua memória." Também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, publicou uma nota de pesar na página da Presidência na Internet, considerando que Alberto Carneiro procurou “incessantemente, uma arte ‘primitiva’” e “primordial, com um cunho meditativo de traços orientais”, recordando ainda que o artista descobriu cedo uma forte ligação à natureza, àquilo a que chamava a ‘personalidade’ das árvores, o vínculo às coisas concretas, e a dimensão corporal dos ofícios”. O ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, também lamentou a sua morte, através de uma nota onde é referido que "com uma voz singular combinou a arte com elementos da natureza e marcou as artes visuais em Portugal a partir da década de 60."

"Não mitifico a arte"
Trabalhava sobre a natureza, os elementos, a água, a terra, o fogo e o ar. Na sua visão a obra de arte existia para questionar, para aumentar o campo de acção, para criar novas fronteiras e novos conceitos. "Eu e arte não sabemos ao certo quem somos, mas temos a certeza de sermos um do outro, e isto é tudo o que precisamos para a vida", escrevia no texto de apresentação da retrospectiva de Serralves, Arte Vida / Vida Arte, em 2013. Nessa altura, numa visita guiada que o PÚBLICO acompanhou, olhando para as suas obras, dizia: "Isto é um sortilégio. Eu vibro mais com isto do que com a Mona Lisa — e considero-me uma pessoa culta em relação à arte. Mas não a mitifico. A essência da beleza da Mona Lisa e do Moisés, encontrámo-la também aqui."

Licenciado pela Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP), em 1967, rumaria a Londres no ano seguinte. Na capital inglesa foi aluno dos escultores britânicos Anthony Caro e Philip King, no âmbito da pós-graduação que frequentou na Saint Martin’s School of Art. A primeira exposição individual aconteceu antes da viagem para Inglaterra, em 1967, na ESBAP. Entre 1975 e 1976, anos em que estudou as formas e os procedimentos estéticos resultantes do amanho da terra, foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian.

Em paralelo à sua obra escultórica, deixou bibliografia, sob a forma de livros e ensaios, dedicados a Arte e Pedagogia. Foi professor de Escultura na ESBAP, na década de 1970, director pedagógico e artístico no Círculo de Artes Plásticas da Universidade de Coimbra, entre 1972 e 1985, e professor na Faculdade de Arquitectura na Universidade do Porto.

Ao longo dos anos realizou mais de setenta exposições individuais e participou em mais de cem mostras colectivas, em Portugal e no estrangeiro. Além da presença em território português (Santo Tirso, Chaves, Metropolitano de Lisboa, Jardins da Casa de Serralves), deixa obras espalhadas por todo o mundo: The Stone Garden, em Gateshead, Inglaterra, uma escultura no parque metropolitano de Quito, Equador, outra em Wicklow, na Irlanda, outra na Aldeia Folclória Coreana, na Coreia do Sul, ou uma escultura na cidade de Taoyuan, na Ilha Formosa, para citar apenas alguns exemplos.

Foto Exposição Arte Vida / Vida Arte, 2013 Nelson Garrido 

Com ele a natureza entrou dentro dos museus. “Avança-se pelo mundo de Alberto Carneiro como por uma floresta. Às escuras, tropeçando em árvores, raízes e pedras, até aparecer uma clareira e o céu explodir na luz desgovernada de um manhã de Inverno”, escrevíamos em 2014. Ao longo dos anos participou nas Bienais de Veneza (1976) e de São Paulo (1977), entre outras grandes exposições internacionais. Nas antológicas da sua obra, contam-se as apresentadas na Fundação Calouste Gulbenkian (1991), em Lisboa, na Fundação de Serralves (1991), no Porto, para além do Museu Nacional Machado de Castro (2000), em Coimbra, no Centro Galego de Arte Contemporânea (2001) de Santiago de Compostela, no Museu de Arte Contemporânea do Funchal (2003), e na Casa da Cerca, em Almada.
No início dos anos 1990 foi o grande ideólogo do Museu Internacional de Escultura Contemporânea (MIEC), actualmente com 54 obras espalhadas por vários espaços públicos de Santo Tirso. Aliás a câmara local vai adjudicar nos próximos dias a obra relativa ao projecto Centro de Arte Alberto Carneiro, um projecto que deverá ser inaugurado no final de 2018.

Entre as distinções que recolheu ao longo da carreira, incluem-se o Prémio Nacional de Escultura (1968) ou o Prémio Nacional de Artes Plásticas da Associação Internacional de Críticos de Arte (1985). Reconhecido internacionalmente, presente em vários museus e colecções, continuava a ter na aldeia onde nasceu a sua residência e o seu local de trabalho.

Ler mais
  1. Alberto Carneiro, o escultor para quem arte e vida eram uma só coisa
  2. O mundo de Alberto Carneiro cabe numa cerejeira
  3. Alberto Carneiro- Arte Ecológica

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Poluição do ar: mais de 20 mil vidas podem ser salvas

Fonte: O Instalador

Petição europeia pede acção do governo para reduzir mortes devido a carvão tóxico.

De acordo com um relatório divulgado recentemente, a aplicação de limites eficazes para a poluição do ar pode salvar mais de 20.000 vidas por ano, mas alguns governos nacionais estão a ameaçar vetar as medidas da UE para combater a poluição tóxica, avisa a Quercus, em comunicado.

De acordo com a associação ambientalista, a petição europeia lançada esta semana pede aos governos que protejam a saúde dos cidadãos e o meio ambiente através da adopção de um documento europeu sobre as normas ambientais denominado "BREF LCP revisto" (documento de referência sobre as melhores técnicas disponíveis).

A petição exige também que os governos protejam a saúde dos seus cidadãos, impondo limites rígidos à poluição tóxica do carvão.

Um relatório recente mostrou como os novos limites de poluição poderiam ajudar a reduzir o número anual de mortes prematuras causadas pela queima de carvão de 22.900 para 2.600 mortes.

«As novas normas são o resultado de anos de negociações entre o governo, a indústria e os representantes de ONGs. Esperava-se que a sua adopção fosse uma formalidade, mas a pressão da indústria levou vários Estados-membros a ameaçar vetar as novas regras na fase final», lembra a Quercus.

Os principais grupos ambientais europeus, o Gabinete Europeu do Ambiente (EEB), a Rede de Acção Climática (CAN) da Europa, a Aliança da Saúde e do Ambiente (HEAL) e a WWF associaram-se à organização WeMove.EU para lançar a petição. A petição que está disponível em inglês, alemão, francês, italiano e polaco, será entregue aos ministros antes de uma votação crucial dos governos nacionais numa reunião da Comissão Europeia a 28 de Abril.

Tal como já tinha comunicado anteriormente, a Quercus reitera «a sua posição desfavorável ao uso do carvão como fonte de energia e reafirma a necessidade de se caminhar para fontes de energias mais limpas que proporcionam uma melhor qualidade do ar e, portanto, da saúde dos cidadãos».

terça-feira, 11 de abril de 2017

PETIÇÃO: Contra o corte raso na Serra da Freita e a replantação com eucalipto

A todos os amigos das árvores nativas: pedimos para irem HOJE à página da Quercus - ANCN Está para sair às 13:50 horas a petição pública: Contra o Corte Raso na Serra da Freita
É muito importante lá pôr "gosto", partilhar e comentar a essa hora (+ 5 minutos) pois só assim será possível alcançarmos milhares de pessoas e assinaturas. A serra agradece.

Assina, divulga e partilha a petição Contra o Corte Raso na Serra da Freita

Após os desastrosos incêndios florestais do ano 2016, o ICNF aplicou uma série de medidas de combate a erosão pós-incêndio. O abate indiscriminado das árvores nativas que sobreviveram a catástrofe não faz parte destas medidas, mas acontece em larga escala. As beiras das estradas que sobem para a Serra da Freita enchem-se com pilhas de madeira de carvalhos, castanheiros e pinheiros, na sua maioria pouco ou nada fustigados pelo fogo. Como é isto possível num espaço da Rede Natura 2000?

Grandes carvalhos que podiam dar bolotas e apoiar a criação dum novo bosque são abatidos sem controle, tanto como castanheiros adultos ou jovens, sem fiscalização, sem qualquer autoridade a visionar e interferir.

Apelamos ao ministério do meio ambiente e os municípios que abrangem este território da Serra da Freita: pronunciem-se, tomem medidas, mostrem presença.

Do mesmo modo que foi entregue aos municípios mais poder para cuidar da floresta, agora é a altura para actuar.


Não deixem transformar as encostas da Serra da Freita num vasto eucaliptal.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Acção Poética


"Creio que há tanta tecnologia intervindo nas mensagens (androids, redes sociais, telemóveis, Ipad, boletins informativos, especializações, traficos, atomização) , que a mensagem VOZ perdeu o seu espaço e ar...e andamos todos sedentos de todos. Porque tudo se economizou, proletarizou e o espaço e tempo de amor ficou medíocres e acre e frágil e a austeridade é isso mesmo: uma poluição financeira e uma ditadura, em que o inimigo é difuso." - João Soares, 6.04.15

domingo, 9 de abril de 2017

Música do BioTerra: Siouxsie and The Banshees- Monitor


Monitor outside
For the people inside
A prevention of crime
A passing of time

They come and they go
It's a passing of time
They come and they go
Whilst we sit in our homes

Sit back and enjoy
The real McCoy
Our new air of authority
Our sentinel of misery

His face was full of intent
And we swith excitement
Then the victim stared up
Looked strangely at the screen
As if her pain was our fault
But that's entertainment

What we crave for inside
No more second rate movies
From those people outsider


Monitor outside
For the people inside
A prevention of crime
A passing of time

A monitor outside

They come and they go
It's a passing of time
They come and they go
Whilst we sit in our homes

Sit back, sit back, sit back
Sit back and enjoy
The real McCoy

Our new air of authority
Our sentinel of misery

Monitor outside
His face was full of intent
And we swith excitement
Then the victim stared up
Looked strangely at the screen
As if her pain was our fault
But that's entertainment
What we crave for inside
No more second rate movies
From those people outside

sábado, 8 de abril de 2017

Frack Off

Water is life. Oil and gas companies are not paying the real price of their production.




Hydraulic fracturing (fracking) has been around since the 1950s and is used across North America to extract natural gas.

The process of fracking involves drilling deep into shale rock to reach untapped reserves of natural gas in very small cracks. Drills can move horizontally so natural gas can be extracted many miles away from a fracking site. Water, sand and other materials are pumped into the hole to open the cracks in the rock, allowing the natural gas to flow out and be used.

Arguments For

Proponents of fracking argue that it has helped to secure a reliable source of natural gas in North America, and this technology could be applied to areas such as the UK, South Africa and New Zealand. The US and Canada benefit from around 100 years of gas security because of fracking. For the consumer, a plentiful supply of gas drives down prices, as well as creating jobs.
The horizontal drilling mechanism can allow areas of natural beauty such as National Parks to be protected, by extracting the gas beneath them with no visible effects on the surface. Difficult-to-reach areas such as beneath the sea could also be reached from land with this technology. Furthermore, the burning of the gas itself produces roughly half the carbon dioxide emissions of coal burning.

Arguments Against

Despite the reduced carbon dioxide emissions, there are significant pollutants involved elsewhere in the fracking process. The natural gas itself, which is mostly methane, has been found to leak in the production process, and as a more potent greenhouse gas than carbon dioxide, is more important to keep control of. The enormous volume of water, and the infrastructure used to pump it below ground, requires transporting and maintaining at the expense of further carbon dioxide emissions.


There are also legitimate concerns surrounding the leakage of contaminated water into conventional groundwater supplies that are often used as drinking water. This is usually dealt with by sealing the pipe with concrete in the upper portion, but leaks could still occur. Furthermore, public health concerns have been raised about some of the chemicals pumped to keep the cracks open – the details of which are not always fully disclosed.

Fracking and NIMBYism

Are you for fracking or against it? What if large shale gas deposits were found beneath your home, would you then be for or against fracking them? With all proposed energy solutions it is worth considering whether you would be a NIMBY (Not In My Back Yard!) or a YIMBY (Yes in My Back Yard!).

Summary

Fracking can release untapped natural gas reserves, providing a relatively cheap and easy to transport source of energy, with less carbon dioxide emissions than coal burning. But, when methane leakage is taken into account it may be just as bad for the climate, so calling it a ‘transition fuel’ (on the way to a zero carbon economy) can be questioned.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Vivemos num sistema de mentiras organizadas

"Vivemos num sistema de mentiras organizadas, entrelaçadas umas nas outras. E o milagre é que, apesar de tudo, consigamos construir as nossas pequenas verdades, com as quais vivemos, e das quais vivemos."~ José Saramago in  Tabu, Lisboa, nº 84, 19 de Abril de 2008

In "José Saramago nas Suas Palavras" de Fernando Gómez de Aguilera (2010)

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Escola e Pais- Entrevista a Luís Borges: A dislexia e o défice de atenção estão muitas vezes ligados

Encurtava as aulas, multiplicava os intervalos, mudava as metas curriculares, dava aos professores mais formação na área das neurociências e garantia aos miúdos mais tempo para brincar. Se pudesse, o neuropediatra Luís Borges mudava a escola. E medicava muito menos.

Ainda existem «bichos-carpinteiros» e «cabeças-no-ar»?
Sempre existiram e sempre existirão. A perturbação da hiperatividade e défice de atenção [PHDA] tem uma base genética: as crianças herdam dos pais os genes que vão condicionar este tipo de comportamento. O que acontece é que, depois, o ambiente pode facilitar ou dificultar o aparecimento dos sintomas – a hiperatividade, a impulsividade e/ou défice de atenção.

A hiperatividade traz sempre associado um défice de atenção?
Julgo que sim, só que na criança mais pequena, que parece ter pilhas Duracell, o que chama mais a atenção é a hiperatividade. Mas com a idade isso vai melhorando. A hiperatividade é o primeiro sintoma a desaparecer, e fica a impulsividade e o défice de atenção.

E o contrário pode acontecer? Um miúdo pode ter apenas défice de atenção, sem nunca ter sido hiperativo?
Essa é a face mais desconhecida da PHDA, mas que na realidade corresponde de 20 a 25 por cento dos casos. São crianças que são até hipoativas, digamos assim, mas que têm défice de atenção. Chamam-lhes day dreamer ou criança sonhadora. Na sala de aula, estão lá, mas não estão. São situações mais complexas e para as quais é preciso alertar pais e professores. Desde logo, porque são crianças socialmente mais tímidas, com maior tendência para o isolamento, para a ansiedade e até a depressão. E depois, porque, estão quietinhas e não perturbam, o problema passa despercebido, muitas vezes só é detetado mais tarde.

… quando surgem os problemas de aprendizagem.
Sim. Sempre que uma criança tem fracos resultados escolares, é preciso saber porquê. Pode ter um certo atraso no desenvolvimento, mas a maior parte das vezes tem na verdade problemas de outra ordem, como os do défice de atenção ou as dislexias.

Com que idade chegam os miúdos às suas consultas?
Os hiperativos, por norma, começam a ter problemas no primeiro ano da escola. Até lá, apesar de serem crianças muito ativas, passam muitas vezes despercebidas. Os problemas surgem quando têm de estar sentados a uma secretária das 09h00 às 17h30…

Passam tempo de mais na escola?
Sim. Dizem-me: «Ah, mas a partir das 15h00 são atividades extracurriculares…» É mais do mesmo. Os professores de Música e de Inglês também lhes exigem que estejam com atenção e vão avaliá-los no final. A PHDA tem uma base genética, mas ter começado a exigir-se demasiado dos mecanismos da atenção não ajuda. Eu até acharia bem que a escola retivesse as crianças até às 17h30, porque isso facilita a vida dos pais. Mas esse tempo deveria ser preenchido com tempos livres. Ter um animador na escola e permitir que a criança jogasse à bola, brincasse, fizesse teatro, cantasse… o que lhe apetecesse. Não sou contra a Música ou o Inglês. Mas das 09h30 às 15h30 a criança devia ter tempo para todas estas aprendizagens, curriculares e extracurriculares. Como não sou contra os trabalhos de casa, mas acho que são de mais e podiam ser substituídos por atividades de leitura. As crianças precisam de brincar – e não têm tempo para isso.

Seria preciso mudar a própria escola.
Há algumas coisas que não têm que ver com a escola. Uma delas é o sono: as crianças devem dormir nove a dez horas por noite. Uma criança que dorme pouco tem dificuldade em concentrar-se e grande parte da nossa memória de longo prazo é feita durante o sono. Depois, há o desporto: a atividade motora liberta substâncias que relaxam, o que vai facilitar a aprendizagem. E há outra coisa importante: o uso exagerado dos tablets e dos telemóveis. Porque a atenção que se usa num jogo de computador é totalmente diferente da que se utiliza para ler e compreender um texto, e as crianças vão habituar-se àquele tipo de atenção… Tudo isso, eu digo aos pais. Mas sim, seria sobretudo importante mudar escola, mudar os programas, aliviar os professores da pressão das metas curriculares… Aos seis anos, é o currículo que deve encaixar na criança e não o contrário.

O que está errado nos programas e nas metas do 1º ciclo?
A velocidade com que as crianças têm de dominar a leitura, por exemplo. Os dois primeiros anos devem ser para aprender a ler. Para depois a criança poder passar a ler automaticamente e a compreender. Mas não. Se ao fim do primeiro ano o miúdo não está a ler vai começar a ter problemas e começa o seu insucesso. E depois a exigência da matemática, do cálculo… Nós aprendíamos coisas no sexto ano que hoje são dadas no quarto e o cérebro dos miúdos não melhorou de um dia para o outro. Há coisas que não estão de acordo com as capacidades das crianças. Eles conseguem, mas com grande esforço, grande stress e sem alegria. Ao nível do cérebro, quando a criança faz uma conta bem feita e tem sucesso, é libertada uma substância que gera bem-estar, a dopamina. Já o insucesso liberta as hormonas de stress, a adrenalina, que muitas vezes bloqueiam a capacidade de raciocínio. Se a criança tem medo de errar, não está em boas condições para aprender. Depois, o stress acumula-se e a motivação que é o motor para aprender não existe, a escola torna-se «uma seca».

É isso que vê nos miúdos que chegam à consulta?
Sim, miúdos stressados, muitos com problemas de sono, que muito frequentemente choram para ir para a escola, com medo de falhar… Nas crianças com PHDA isso acontece muito. Até porque outra coisa que tem que ver com os défices de atenção, que não está nas classificações internacionais, mas que devia estar, é a parte emocional. São miúdos emocionalmente frágeis, que lidam mal com a frustração, com as emoções – e muitas vezes com problemas sociais. Os colegas não os suportam porque, mesmo nas brincadeiras, não se pode contar com eles. Estão à baliza e quando o outro chuta, eles estão pendurados na trave… Querem corresponder às expetativas dos outros, mas não conseguem.

E por é que não conseguem?
No nosso sistema nervoso, aquilo a que chamamos a função executiva – que nos permite organizar, planear, executar e monitorizar o que fazemos durante o dia –, começa a desenvolver-se lentamente, amadurece e está na sua plena funcionalidade por volta dos 20 anos. E nessas crianças, o que acontece é que essa função está desenvolver-se mais lentamente, às vezes com três ou quatro anos de diferença em relação ao padrão.

Quais são as implicações práticas da imaturidade dessa parte do cérebro?
O sistema que regula as atividades que fazemos no dia-a-dia, que é o que nos permite falar enquanto conduzimos, de forma automática, por exemplo, não está a funcionar. E isso faz que falhe a autorregulação – o professor tem de lhe dizer 20 vezes para se virar para a frente. Além disso, implica com aquilo a que chamamos memória de trabalho, ou de curto prazo. Se o professor disser: «Agora abram o livro na página 23 e vão à linha nº 14 procurar quantos verbos estão no infinito…», o miúdo com défice de atenção ficou com a primeira informação, o resto já se apagou. Ele não consegue pôr na memória de trabalho essa informação toda. O professor tem de dizer-lhe o número da página, deixá-lo abrir o livro, depois indicar-lhe a linha, esperar que a encontre, e só depois explicar o resto.

Porquê?
Os miúdos com PHDA ou dislexia têm uma memória de trabalho curta. Se lhes for dado um problema de matemática, em que eles têm de primeiramente somar, para depois subtrair e dividir, eles têm de o fazer por partes. Se lerem o enunciado todo de seguida, ficam completamente perdidos… e vão responder à primeira coisa que lhes vier à cabeça. A memória de trabalho é fundamental para a aprendizagem – e fala-se muito pouco sobre isso. Os professores deviam ter mais conhecimentos sobre neurociências e a sua importância nos processos de aprendizagem.

O sistema agrava o problema das crianças com PHDA, é isso?
O problema da PHDA tem uma base genética. Ou seja, mesmo que tudo isto fosse melhorado, continuaria a haver défice de atenção. Mas seriam menos os casos, porque se estaria a respeitar mais o ritmo de amadurecimento das estruturas cerebrais – e, muito provavelmente, haveria também menos crianças medicadas. Porque hoje em dia é fácil: a criança mexe-se muito, a professora já sabe que há um comprimido que faz que ele fique quieto, insiste com os pais… e os médicos acabam por entrar nesse jogo. Eu próprio faço isso.

Medica-se de mais para a PHDA?
Pela falta de conhecimento do que é a PHDA e de como se pode ajudar as crianças desde cedo a melhorar, medica-se demasiado, não tenho dúvida nenhuma. Se a escola não exigisse tanto, se a criança não estivesse tanto tempo na sala de aula, se pudesse ir mais vezes ao recreio, se tivesse períodos mais curtos de atenção, provavelmente as coisas podiam funcionar melhor… mas isso não acontece. E aí ficamos sem alternativa, porque ou se medica aquela criança ou ela vai ter insucesso escolar.

É uma decisão difícil…
Como os défices de atenção são uma epidemia nacional, eu acho que o assunto devia ser mais debatido e só se devia medicar mediante critérios bem definidos. Mas é preciso dizer que estamos a falar de uma medicação que em 80 por cento dos casos é eficaz e que é bem tolerada, sem efeitos colaterais. Eu próprio a tomo, aos 78 anos, todos os dias.

Utiliza o seu exemplo quando fala com os pais e com os miúdos em consulta?
A dislexia e o défice de atenção estão ligados muito frequentemente, há uma percentagem grande de crianças que têm os dois problemas – e é o meu caso. Fiz o meu próprio diagnóstico a posteriori. Quando era miúdo, o que havia era «bichos-carpinteiros» e eu era um «cabeça-no-ar». Sofri o estigma… Perdi dois anos no primeiro ano da escola primária e só à terceira é que passei. Depois, mais tarde, já na faculdade, voltei a ter problemas com a anatomia, com os nomes em latim… Conto muitas vezes isto, sobretudo aos miúdos, para eles perceberem que «o doutor», que chegou a médico e foi diretor de um serviço no hospital e essas coisas todas, perdeu anos na escola. Digo-lhes que acreditei sempre – «Eu sou capaz de chegar lá, porque sou inteligente.» E explico-lhes que é isso que eles têm de fazer, que o importante é ter confiança de que se vai conseguir.

No seu caso, o défice de atenção permaneceu na idade adulta.
A PHDA nem sempre desaparece. Afeta nove por cento das crianças, oito por cento dos adolescentes e quatro por cento dos adultos.

Isso significa que também medica alguns pais?
Frequentemente, cada vez mais. Lembro-me de um pai que estava sentado com o filho e às tantas pediu para se levantar, deu uma volta à secretária, sentou-se, depois levantou-se outra vez e encostou-se à parede. E eu a ver toda aquela atividade… Acabou por perguntar se eu não achava que a medicação lhe faria bem a ele também e eu disse-lhe: «Tenho quase a certeza que sim.» O pai tinha défice de atenção e era um pouco hiperativo. A mãe sabia. Até já tinha deixado cair…: «Senhor doutor… tal pai, tal filho!»

LUÍS BORGES
Tem 78 anos, é neuropediatra, preside à Associação Nacional de Intervenção Precoce (ANIP) e continua ligado ao Hospital Pediátrico de Coimbra, instituição que lhe prestou homenagem dando o seu nome ao Centro de Desenvolvimento da Criança. Tornou-se uma referência na área das dislexias e PHDA, mas nas consultas os miúdos ouvem também outra história: «o doutor» tem défice de atenção até hoje e, por causa da dislexia, chumbou no primeiro ano da escola