quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Entrevista a José Rodrigues - A escola e a condição humana: O «Pulso ainda pulsa»

Uma entrevista ao intelectual José Rodrigues, sobre o polémico tema dos exames:


Solid. Os alunos devem ser avaliados? Como?
«Sim, sem dúvida, estudantes devem ser avaliados. Há, pelo menos, dois grandes campos de argumentos favoráveis. Em primeiro lugar, é muito difícil (quiçá impossível) aperfeiçoar o próprio trabalho docente, que deve visar a aprendizagem dos estudantes, obviamente, sem averiguar como estes estão evoluindo na construção do saber. Em segundo lugar, o próprio estudante tem o direito de saber, de forma mais ou menos objetiva, portanto, a partir de um outro que já domina aquele saber, o seu próprio estágio de desenvolvimento. É claro que o próprio curso do desenvolvimento do saber não é linear e nem sempre objetivável. Mas mesmo assim, vale o esforço da avaliação. 
Contudo, cabe uma pergunta: qual avaliação, qual avaliador? Nesse sentido, há um aspecto específico sobre a avaliação que precisa ser melhor analisado: o triplo caráter nacional/larga escala-padronizado-externalizado de avaliação. Com relação a este caráter, não posso concordar. Também há aqui dois campos de argumentos, no caso, contrários à avaliação padronizada em nível nacional. Em primeiro lugar, é necessário questionar os agentes da avaliação, quais são os seus interesses, se são empresas privadas – as quais visam lucro. Além disso, caberia perguntar quem avalia o avaliador. Qual é o grau de controle social, especialmente dos docentes, de todo um país, sobre a finalidade, os objetivos, os métodos de avaliação? Como são escolhidos as entidades (empresas?) que planejarão e implementarão a avaliação? Qual é a composição de seu “quadro técnico”? Quanto custa a avaliação? Em segundo lugar, a utilização em larga escala de métodos padronizados de avaliação impactam diretamente os currículos escolares (no sentido mais amplo, mas também em sentido restrito) e, quase sempre, de forma negativa. É comum, nestas situações, as escolas e os docentes (re)planejarem o seu currículo de forma “interessada”. Ou seja, em vez de educar, treina-se o estudante para enfrentar os exames padronizados.
Enfim, avaliação sim, mas sob o controle dos professores, sem padronização imposta, e realizada em pequena escala, com o objetivo de contribuir para a construção do saber, incluindo aí o replanejamento do trabalho escolar, sem visar qualquer forma de hierarquização de estudantes ou de unidades escolares, muito menos que condicionem verbas, prêmios ou corte de verbas, punições aos resultados das avaliações.

Toda a entrevista aqui

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