sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Fardos de palha não servem só para os três porquinhos


Depois de um percurso na arquitectura “dita convencional”, Catarina Pinto começou a explorar materiais mais ecológicos, como fardos de palha, num trabalho em que a realidade ultrapassa a história infantil de "Os Três Porquinhos".

Portugal continua longe de países como Inglaterra, Eslováquia ou Alemanha, onde a palha serve como matéria-prima na construção. Em França, há já o projecto para uma sala polivalente por iniciativa da autarquia de Mazan, exemplifica à Lusa Catarina Pinto, do estúdio de Arquitectura Terra Palha, responsável pelo projecto Casulo (jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, Verão de 2011).

A arquitecta quis afastar-se das "auto-experiências" que nem sempre têm os melhores resultados e aprendeu as bases da arquitectura mais tradicional e ecológica, que começa a interessar mais os estudantes nas faculdades. Catarina Pinto adianta que "curiosos" se dedicam "ao fim de semana" a esta construção e acabam por dar “má imagem”, uma vez que são necessárias precauções extra nestes trabalhos, como utilizar um beirado (limite do telhado) mais longo para proteger as paredes.

No seu currículo, além de participações em projectos internacionais, figura uma formação com o "guru" norte-americano Andrew Morrison, na qual se ergueram paredes de um edifício com 400 metros quadrados para servir de armazém numa produção de cogumelos.

Pouca palha em Portugal
Em Portugal, são poucos os edifícios construídos com recurso a fardos de palha e os que existem talvez nem sejam visíveis para a maioria das pessoas, porque, segundo a arquitecta, a palha equivale aos tijolos — é revestida e fica com a “aparência equivalente” a outras casas.

“Arrisco que existam 15 a 20 construções com fardos de palha em Portugal. Actualmente em França devem existir cinco mil e com tendência a crescer”, comenta. Porém, um auditório de uma comunidade alemã no Alentejo orgulha-se de ser o maior da península ibérica construído segundo esta técnica.

Na lista de vantagens deste tipo de construção ecológico, está o “excelente isolamento térmico” e o “material em abundância”. Já o ponto negativo é a falta de enquadramento legal e que coloca questões de como licenciar estes edifícios. Como a técnica está ainda no início, também há pouca mão de obra especializada, mas a arquitecta acredita que já está a crescer a “bola de neve”.

Catarina Pinto nota que as dificuldades burocráticas podem ser ultrapassadas e que se pode evitar as maiores despesas, quase sempre relacionadas com a inovação técnica e com o facto de poucas pessoas fazerem este trabalho. Além disso, sublinha, um empreiteiro pode assumir que o lucro será menos importante do que os conhecimentos que vai adquirir. 

Saber mais:

Leituras
- a apresentação (powerpoint) de Terrapalha (por Catarina Pinto)
- o caso de uma oficina de construção de casa em fardos de palha em Turtle Rock Farm (EUA)
- um sistema de construção com painéis de palha,
- uma tradução do artigo How to Build With Straw Bales
- um vídeo de Chris Ripley sobre a construção de uma casa com fardos de palha na Quinta dos Melros, Tábua

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Meu aniversário

Obrigado a todas as mensagens de aniversário. Comovem-me e encantam-me o carinho e a vossa presença na minha vida, uns a nível pessoal e muitos nas redes sociais. Significa para mim muito e sois um pedaço de Sol na minha vida, também. Bem hajam. Como retribuição e como de costume deixo-vos igualmente uma "prenda". Chama-se "Whales" (Soundtrack 1991) de Klaus Schulze. Podem desembrulhar!





quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Fragmento do Homem

Este ano, a partir do dia 22 de Agosto e até ao dia 31 de Dezembro, a humanidade estará a consumir recursos que o Planeta não conseguirá recuperar ou repor durante o ano de 2013.No ano de 2011, o Overshoot Day foi no dia 27 de Setembro... August 22 is Earth Overshoot Day. A atender às "tendências", será provável que em 2014 esse dia se situe em Julho, em 2015 será em Junho... Em 2016 em Maio, 2017 Abril, 2018 Fevereiro e antes do final do ano 2020, a humanidade já terá gasto todos os recursos renováveis do ano 2021... 
Assistimos a duas dicotomias convergentes- mais maldade e mistificação do que é o genuíno desenvolvimento sustentável: por um lado são imenos os entraves legais: é na criação de zonas livres de OGM, é na recuperação de edifícios, é no arrendamento a jovens em centros urbanos, é na mobilidade urbana e adaptada e construção de ciclovias, é no orçamento participativo, é nas cidades sustentáveis..e pior de tudo, criamos cada vez mais excluídos/iniquidade e a privataria está a humilhar os excluídos! Por outro lado é o crime cibernético: apesar de múltiplas gotículas de Esperança e Eco-soluções, contudo falta a vaga comum. Vamos furando a muralha de Jericó (desculpem a homologia bíblica) mas agora estamos cada vez mais a entrar na guerra e no casino da deep web e aí há uma rede de piratas (criminosos) que estão a destruir a nossa superfície económica e de direitos humanos conquistados com tanto suor e dor, após a II Guerra Mundial.




Que tempo é o nosso? Há quem diga que é um tempo a que falta amor. Convenhamos que é, pelo menos, um tempo em que tudo o que era nobre foi degradado, convertido em mercadoria. A obsessão do lucro foi transformando o homem num objecto com preço marcado. Estrangeiro a si próprio, surdo ao apelo do sangue, asfixiando a alma por todos os meios ao seu alcance, o que vem à tona é o mais abominável dos simulacros. Toda a arte moderna nos dá conta dessa catástrofe: o desencontro do homem com o homem. A sua grandeza reside nessa denúncia; a sua dignidade, em não pactuar com a mentira; a sua coragem, em arrancar máscaras e máscaras.
E poderia ser de outro modo? Num tempo em que todo o pensamento dogmático é mais do que suspeito, em que todas as morais se esbarrondam por alheias à «sabedoria» do corpo, em que o privilégio de uns poucos é utilizado implacavelmente para transformar o indivíduo em «cadáver adiado que procria», como poderia a arte deixar de reflectir uma tal situação, se cada palavra, cada ritmo, cada cor, onde espírito e sangue ardem no mesmo fogo, estão arraigados no próprio cerne da vida? 
Desamparado até à medula, afogado nas águas difíceis da sua contradição, morrendo à míngua de autenticidade - eis o homem! Eis a triste, mutilada face humana, mais nostálgica de qualquer doutrina teológica que preocupada com uma problemática moral, que não sabe como fundar e instituir, pois nenhuma fará autoridade se não tiver em conta a totalidade do ser; nenhuma, em que espírito e vida sejam concebidos como irreconciliáveis; nenhuma, enquanto reduzir o homem a um fragmento do homem. Nós aprendemos com Pascal que o erro vem da exclusão. 

Eugénio de Andrade, in 'Os Afluentes do Silêncio'

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Como surgiram as ciclovias holandesas?


Uma explicação histórica do desenvolvimento e crescimento das ciclovias Holandesas.
Tradução - Joni Hoppen - autor do blog Lá no Frai 
Créditos para Autores Holandeses - David Hembrow - Mark Wagenbuur
vídeo original e mais informações no blogue Hembrow (Inglês)

domingo, 26 de agosto de 2012

Novo Dossiê BioTerra: Privataria- austeridade é mentira e agressão

The Idealist- Economia baseada na competitividade e consumo é escravatura [Clica na Imagem Para Ampliares]
Soluções?
"As soluções andam a ser propostas desde 2008 sem que as elites políticas e financeiras as queiram ouvir.
Primeiro, teríamos que nos ver livres da corja do Goldman Sachs, começando no Mario Draghi e acabando no António Borges e no Vítor Gaspar.
A seguir, regular eficazmente o sector financeiro, recuperando o que ele roubou ao sector produtivo, aos contribuintes e aos trabalhadores e retirando-lhe toda a capacidade de intervenção política.

Finalmente, e em simultâneo: a) aplicar medidas de estímulo económico, através de avultados investimentos públicos, bem escolhidos em termos de sustentabilidade e rentabilidade futura, aceitando para tal, provisoriamente, aumentos moderados no défice público, na dívida pública e na inflação; e b) combater eficazmente a corrupção, tanto a legal como a ilegal, de modo a evitar a derrapagem orçamental nesses investimentos e a assegurar a sua real utilidade pública.

Seria preciso convencer a Alemanha? Seria. Mas não podemos ficar acorrentados para sempre ao trauma irracional da hiperinflação." (por José Luiz Sarmento)

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Stop the looting and start prosecuting! Paremos o saque e exijamos prisão!

Tantos submarinos a submergir e a emergir, uns Freeports e um Allgarve bem "pacífico" e depois ainda negócios da China com a EDP, o Douro Vinhateiro em risco de perder o título de Património da Humanidade, por causa da barragem do Tua...mas hummm energia solar em Portugal?? Onde estás? [clica na imagem para ampliar]



Na Finlândia os privados são bem fiscalizados e com mão-pesada...Os títulos de dívida privada em Portugal é TRÊS VEZES maior que na Finlândia. Aqui é mais uma diferença ESSENCIAL deste país com Portugal. O PIB da Filândia = 238.5; PIB de Portugal = 229.0. Títulos da dívida publica da Filândia= 100,3; de Portugal = 178,1; Títulos da dívida privada, Finlândia= 131.9; Portugal = 357.6; todos os valores em mil milhões de dólares, ano 2010, fonte FMI. Mas há mais verdades! Vejam com os vossos próprios olhos![clica na imagem para ampliar]

Dados FMI
No que toca a canibalização económica de um país a fórmula é simples: o Goldman (e seus colaboradores infiltrados nos Governos), com a cumplicidade das agências de rating, declara que um governo está insolvente, como consequência as yields sobem e obriga-o, assim, a pedir mais empréstimos com juros agiotas. Em simultâneo impõe duras medidas de austeridade que empobrecem esse pais. De seguida, em nome do aumento da competitividade e da modernização (antiga escravatura) , obriga-os a abrir os seus sectores económicos estratégicos (energia, águas, saúde, banca, seguros, etc.) às corporações internacionais. [BioTerra]
Roubaram-nos o tempo...aceleraram-se as TIC, os telepais e nós deixamos o ciclo vicioso do consumismo entrar pelas nossas vidas dentro...Seremos capazes de inverter e defender a educação familiar?


Atenção à recessão...é mentira. Trata-se do maior roubo à escala global. Cabe aos EUA evitar o romunismo e seus seguidores Lord Rothschild takes £130m bet against the euro - Telegraph (e já agora lembram-se do episódio Black Wednesday?)


Stop the looting and start prosecuting.
O Dia do Silêncio Mortal [ler aqui]

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Antes de começar a ler, sente-se e aperte o cinto de (in)segurança!!

Partilho este texto. Muito bom e vai de encontro a uma postagem do meu blogue de ontem:
2012A, Não- Precisamos de um Plano B


Este texto é um pouco comprido mas é útil lê-lo até ao fim…
Quem é Carlos Moedas?
Sabem mesmo quem é Carlos Moedas?
 


"Os arautos da transparência, têm como adjunto do primeiro-ministro, o senhor Carlos Moedas, que se veio agora a saber ter 3 empresas ligadas às Finanças, aos Seguros e à Imagem e Comunicação, tendo tido como sócios, Pais do Amaral, Alexandre Relvas e Filipe de Button a quem comprou todas as quotas em Dezembro passado.

Como clientes tem a Ren, a EDP, o IAPMEI, a ANA, a Liberty Seguros entre outros.
Nada obsceno para quem é adjunto de Paridade do Poder de Compra (PPC) !!!
E não é que o bom do Moedas até comprou as participações dos ex-sócios para "oferecer" o bolo inteiro à mulher???!!!!. Diz ele à Sábado.
Não esquecer ainda que o Carlos Moedas é um dos homens de confiança do Goldman Sachs, a cabeça do Polvo Financeiro Mundial, onde estava a trabalhar antes de vir para o Governo.
Também o António Borges é outro ex-dirigente do Goldman e que agora está a orientar(!?!?) as Privatizações da TAP, ANA, GALP, Águas de Portugal, etc.
Adoro estes liberais de trazer por casa, dependentes do Estado, quer para um emprego, quer para os seus negócios.
Lamentavelmente, a política económica suicidária da UE, que resultou nas tragédias que ja todos conhecem, acresce a queda do Governo Holandês (ironicamente, acérrimo defensor da austeridade) e o agravamento da recessão em Espanha. Por conseguinte, a zona euro vê o seu espaço de manobra cada vez mais reduzido e os ataques dos especuladores são cada vez mais mortíferos. Vale a pena lembrar uma vez mais que o Goldman and Sachs, o Citygroup, o Wells Fargo, etc. apostaram biliões de dólares na implosão da moeda única. Na sequência dos avultadíssimos lucros obtidos durante a crise financeira de 2008 e das suspeitas de manipulação de mercado que recaíam sobre estas entidades, o Senado norte ­americano levantou um inquérito que resultou na condenação dos seus gestores. Ficou também demonstrado que o Goldman and Sachs aconselhou os seus clientes a efectuarem investimentos no mercado de derivados num determinado sentido. Todavia, esta entidade realizou apostas em sentido contrário no mesmo mercado. Deste modo, obtiveram lucros de 17 biliões de dólares (com prejuízo para os seus clientes).
Estes predadores criminosos, disfarçados de banqueiros e investidores respeitáveis, são jogadores de póquer que jogam com as cartas marcadas e, por esta via, auferem lucros avultadíssimos, tornando-se, assim, nos homens mais ricos e influentes do planeta. Entretanto, todos os dias são lançadas milhões de pessoas no desemprego e na pobreza em todo o planeta em resultado desta actividade predatória. Tudo isto, revoltantemente, acontece corn a cumplicidade de governantes e das autoridades reguladoras. Desde a crise financeira de 1929 que o Goldman and Sachs tem estado ligado a todos os escândalos financeiros que envolvem especulação e manipulação de mercado, com os quais tem sempre obtido lucros monstruosos. Acresce que este banco tem armazenado milhares de toneladas de zinco, alumínio, petróleo, cereais, etc., com o objectivo de provocar a subida dos preços e assim obter lucros astronómicos. Desta maneira, condiciona o crescimento da economia mundial, bem como condena milhões de pessoas a fome.
No que toca a canibalização económica de um país a fórmula é simples: o Goldman, com a cumplicidade das agências de rating, declara que um governo está insolvente, como consequência as yields sobem e obriga-o, assim, a pedir mais empréstimos com juros agiotas. Em simultâneo impõe duras medidas de austeridade que empobrecem esse pais. De seguida, em nome do aumento da competitividade e da modernização, obriga-os a abrir os seus sectores económicos estratégicos (energia, águas, saúde, banca, seguros, etc.) às corporações internacionais.
Como as empresas nacionais estão bastante fragilizadas e depauperadas pelas medidas de austeridade e da consequente recessão não conseguem competir e acabam por ser presa fácil das grandes corporações internacionais.
A estratégia predadora do Goldman and Sachs tem sido muito eficiente. Esta passa por infiltrar os seus quadros nas grandes instituições políticas e financeiras internacionais, de forma a condicionar e manipular a evolução política e económica em seu favor e em prejuízo das populações. Desta maneira, dos cargos de CEO do Banco Mundial, do FMI, da FED, etc. fazem parte quadros oriundos do Goldman and Sachs. E na UE estão: Mário Draghi (BCE), Mário Monti e Lucas Papademos (primeiros-ministros de Itália e da Grécia, respectivamente), entre outros. Alguns eurodeputados ficaram estupefactos quando descobriram que alguns consultores da Comissão Europeia, bem como da própria Angela Merkel, tem fortes ligações ao Goldman and Sachs. Este poderoso império do mal, que se exprime através de sociedades anónimas, está a destruir não só a economia e o modelo social, como também as impotentes democracias europeias.
Texto de Domingos Ferreira
Professor/Investigador Universidade do Texas, EUA, Universidade Nova de Lisboa

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A arte de Banksi e a escola do amor global



Os biótopos são lugares onde todos os aspectos da vida humana estão holisticamente integrados de modo que estamos vivendo confiança, consciência e paz em todos os aspectos de nossas vidas, de nossos pensamentos e emoções para as nossas relações com outros seres humanos e seres vivos e as formas como se relacionam com recursos naturais, alimentos, água, energia e todas as outras necessidades humanas [Ler mais aqui no blogue de Siri Gunarson]


terça-feira, 21 de agosto de 2012

Aos Vindouros, se os Houver... por Alexandre O'Neill


Aos Vindouros, se os Houver... 

Vós, que trabalhais só duas horas
a ver trabalhar a cibernética,
que não deixais o átomo a desoras
na gandaia, pois tendes uma ética;

que do amor sabeis o ponto e a vírgula
e vos engalfinhais livres de medo,
sem peçários, calendários, Pílula,
jaculatórias fora, tarde ou cedo;

computai, computai a nossa falha
sem perfurar demais vossa memória,
que nós fomos pràqui uma gentalha
a fazer passamanes com a história;

que nós fomos (fatal necessidade!)
quadrúmanos da vossa humanidade.

Alexandre O'Neill, in 'Poemas com Endereço'

Ler ainda


Biografia
Poeta português, descendente de irlandeses e nascido em Lisboa. Autodidacta, fez os estudos liceais, frequentou a Escola Náutica (Curso de Pilotagem), trabalhou na Previdência, no ramo dos seguros, nas bibliotecas itinerantes da Fundação Gulbenkian, e foi técnico de publicidade.

Durante algum tempo, publicou uma crónica semanal no Diário de Lisboa. Datam do ano de 1947 duas cartas de O'Neill que demonstram o seu interesse pelo surrealismo, dizendo numa delas (de Outubro) possuir já os Manifestos de Breton e a Histoire du Surrealisme de M. Nadeau. Nesse mesmo ano, O'Neill, Cesariny e Mário Domingues começam a fazer experiências a nível da linguagem, na linha do surrealismo, sobretudo com os seus Cadáveres Esquisitos e Diálogos Automáticos, que conduziam ao desmembramento do sentido lógico dos textos e à pluralidade de sentidos.

Por volta de 1948, fundou com o poeta Cesariny, com José-Augusto França, António Pedro e Vespeira o Grupo Surrealista de Lisboa. Com a saída de Cesariny, em Agosto de 1948, o grupo cindiu-se em dois, dando origem ao Grupo Surrealista Dissidente (que integrou, além do próprio Cesariny, personalidades como António Maria Lisboa e Pedro Oom). Em 1949, tiveram lugar as principais manifestações do movimento surrealista em Portugal, como a Exposição do Grupo Surrealista de Lisboa (em Janeiro), onde expuseram Alexandre O'Neill, António DaCosta, António Pedro, Fernando de Azevedo, João Moniz Pereira, José-Augusto França e Vespeira.

Nessa ocasião, Alexandre O'Neill publicou A Ampola Miraculosa, constituída por 15 imagens sem qualquer ligação e respectivas legendas, sem que entre imagem e legenda se estabelecesse um nexo lógico, o que torna altamente irónico o subtítulo da obra, «romance». Esta obra poderá ser considerada paradigmática do surrealismo português. Foram lançados, ainda nesse ano, os primeiros números dos Cadernos Surrealistas. Em Maio do mesmo ano, foi a vez de o Grupo Surrealista Dissidente organizar uma série de conferências com o título geral «O Surrealismo e o Seu Público», em que António Maria Lisboa leu o que se pode considerar o primeiro manifesto surrealista português. Houve ainda mais duas exposições levadas a cabo por este grupo (em Junho de 1949 e no ano seguinte, no mesmo mês), sem grande repercussão junto do público.

Depois de uma fase de ataques pessoais entre os dois grupos (1950-52), que atingiram sobretudo José-Augusto França, e após a morte de António Maria Lisboa, extinguiram-se os grupos surrealistas, continuando todavia o surrealismo a manifestar-se na produção individual de alguns autores, incluindo o próprio Alexandre O'Neill, que se demarcara, já em 1951, no Pequeno Aviso do Autor ao Leitor, inserido em Tempo de Fantasmas. Nessa mesma obra, sobretudo na primeira parte, Exercícios de Estilo (1947-49), a influência do surrealismo manifesta-se em poemas como Diálogos Falhados, Inventário ou A Central das Frases e na insistência em motivos comuns a muitos poetas surrealistas, como a bicicleta e a máquina de costura.

Na segunda parte da obra, Poemas (1950-51), essa influência, embora ainda presente, é atenuada, como acontecerá em No Reino da Dinamarca (1958) e Abandono Vigiado (1960). A poesia de Alexandre O'Neill concilia uma atitude de vanguarda (surrealismo e experiências próximas do concretismo) — que se manifesta no carácter lúdico do seu jogo com as palavras, no seu bestiário, que evidencia o lado surreal do real, ou nos típicos «inventários» surrealistas — com a influência da tradição literária (de autores como Nicolau Tolentino e o abade de Jazente, por exemplo).

Os seus textos caracterizam-se por uma intensa sátira a Portugal e aos portugueses, destruindo a imagem de um proletariado heróico criada pelo neo-realismo, a que contrapõe a vida mesquinha, a dor do quotidiano, vista no entanto sem dramatismos, ironicamente, numa alternância entre a constatação do absurdo da vida e o humor como única forma de se lhe opor. Temas como a solidão, o amor, o sonho, a passagem do tempo ou a morte, conduzem ao medo (veja-se «O Poema Pouco Original do Medo», com a sua figuração simbólica do rato) e/ou à revolta, de que o homem só poderá libertar-se através do humor, contrabalançado por vezes por um tom discretamente sentimental, revelador de um certo desespero perante o marasmo do país — «meu remorso, meu remorso de todos nós». Este humor é, muitas vezes, manifestado numa linguagem que parodia discursos estereotipados, como os discursos oficiais ou publicitários, ou que reflecte a própria organização social, pela integração nela operada do calão, da gíria, de lugares-comuns pequeno-burgueses, de onomatopeias ou de neologismos inventados pelo autor.

Obras publicadas e intervenção noutros meios de comunicação

domingo, 19 de agosto de 2012

Lorca e a homenagem de ciganos

Lorca e Dalí
"Federico García Lorca conta-se entre as primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola. Foi fuzilado, com apenas 38 anos, em Agosto de 1936, entre os dias 17 e 19, pelo seu alinhamento político com os Republicanos e por ser declaradamente homossexual. 

Todos os anos nesta data, em Viznar, perto de Granada, ciganos cantam, dançam e dizem poesia em honra de Lorca e de cerca de 3.000 fuzilados pelos franquistas, cujas ossadas se encontram por perto. De madrugada, à luz de velas e das estrelas, sem nada programado, sem nenhuma convocação formal." ~ Joana Lopes 

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Secos e Molhados - "Rosa de Hiroshima"

  • Todas as postagens sobre o sucedido em Hiroshima e Nagasaki no BioTerra
  • Ver  ainda Dossier Bioterra Não ao Nuclear
Rosa de Hiroshima - Secos e Molhados Ao Vivo no Maracanãzinho

"Rosa de Hiroshima" de Gerson Conrad e Vinicius de Moraes

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas

Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária

A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose

A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa, sem nada

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Musica do BioTerra: José Afonso (Zeca Afonso) - Verdes são os Campos

Foto por Paulo Marques - Prados da Puceteira. Paisagem Protegida da Serra de Montejunto



Poema de Luís de Camões

Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

Luís de Camões e Zeca Afonso in "Traz outro amigo também"

Página Oficial AJA
Todas as postagens de Zeca Afonso no Bioterra.