domingo, 5 de dezembro de 2010

Encontros Improváveis- Sísifo- por Miguel Torga e pensamento de Albert Camus

“Sisyphus”, Titian, Oil on canvas, 237 x 216 cm, Madrid, Museo Nacional del Prado

Para Albert Camus, Sísifo é o expoente daquilo que chama o “homem absurdo” ou o homem com uma “sensibilidade absurda”. Este é o homem perpetuamente consciente da inutilidade e futilidade da sua vida, que ainda assim não desiste de a transformar em algo maior.
Através da banalização de sua realidade, o homem passa a vibrar indiferentemente para aquilo que está a sua volta e, em meio ao seu corpo social, se expressa com agressividade para se proteger, ao mesmo tempo em que quer ser reconhecido pelos seus semelhantes.
"É durante esse retorno, essa pausa, que Sísifo me interessa. Um rosto que pena, assim tão perto das pedras, é já ele próprio pedra! Vejo esse homem redescer, com o passo mais igual, para o tormento cujo fim não conhecerá. Essa hora que é como uma respiração e que ressurge tão certamente quanto sua infelicidade, essa hora é aquela da consciência. A cada um desses momentos, em que ele deixa os cimos e se afunda pouco a pouco no covil dos deuses, ele é superior ao seu destino. É mais forte que seu rochedo." (ALBERT CAMUS)
Somos todos Sísifos. Realmente... não há castigo pior no mundo que o trabalho inútil e sem esperança. No entanto, segundo o próprio Camus: "A própria luta em direção aos cimos é suficiente para preencher um coração humano. É preciso imaginar Sísifo feliz."

SÍSIFO - MIGUEL TORGA
Recomeça....
Se puderes
Sem angústia...
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...

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