sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Estado da Arte da Agricultura Biológica em Portugal, por Ana Firmino



As explorações de agricultura biológica em Portugal, a exemplo do que tem acontecido noutros países europeus em períodos mais ou menos recentes, têm tido um crescimento constante, sobretudo nos últimos cinco anos, saldando-se o seu número em 1 577 operadores certificados, o que corresponde a 233 458 ha (dados de Dezembro de 2005).

A certificação da pecuária em modo de produção biológico, em 2002, veio dar maior dinâmica ao sector, contribuindo para o aumento da área de culturas destinadas à alimentação dos animais, como é o caso das pastagens e culturas arvenses. Permitiu, ainda, colmatar uma lacuna no abastecimento de produtos provenientes do modo de produção biológico e abrir caminho à diversificação e valorização da produção, como é o caso dos enchidos e dos lacticínios, geradores de mais valias não displicentes.

Numa perspectiva estratégica de desenvolvimento sustentável do mundo rural é indubitável que o modo de produção biológico, como resultado das exigências constantes do Caderno de Normas, poderá prestar um contributo muito valioso tanto em termos ambientais, como paisagísticos, perfilando-se simultaneamente como um dos factores determinantes para a melhoria da qualidade dos produtos alimentares e dinamização das pequenas economias regionais e locais.

Situando-se preferencialmente em áreas do interior, onde a poluição não é ainda factor de preocupação imediata, a agricultura biológica pode assumir  papel importante na fixação de populações, abrindo perspectivas de desenvolvimento em áreas outrora marginalizadas.

Se enquadrada numa actividade diversificada, como por vezes sucede, assume papel destacado na oferta de alojamento em áreas de particular beleza natural, constituindo igualmente, não raras vezes, uma forma de proporcionar ao visitante o contacto com o artesanato local, produzido ou não na própria exploração, e o património paisagístico, arquitectónico, cultural e gastronómico. Neste campo, em particular, várias são as explorações que se especializaram na confecção de doçaria baseada em receitas antigas, que têm registado assinalável sucesso.

Este Guia das Explorações de Agricultura Biológica pretende constituir uma forma de aproximação entre o produtor e o consumidor, que incentive o primeiro a produzir mais e melhor, indo ao encontro das necessidades do mercado, oferecendo ao cidadão urbano um espaço de lazer e de venda de produtos da quinta.

Ao estimular o contacto com a Natureza, pela possibilidade do visitante passar algum tempo com os animais e as plantas, proporcionando aos mais jovens lições ao vivo de educação ambiental, o Guia visa, ao mesmo tempo, que este beneficie da vantagem de encontrar, a um preço mais convidativo, face à inexistência de intermediários, produtos frescos colhidos na altura, a exemplo do que se  verifica em algumas quintas da União Europeia, como na Grã-Bretanha e França, onde o visitante é convidado a colher os produtos que deseja adquirir, numa modalidade que se designa por “Colha você mesmo” (Pick up yourself).

Dada a existência de instalações por vezes desaproveitadas, como celeiros, adegas, habitações abandonadas, que podem ser convertidos em salões de festas ou de exposição, poder-se-ão criar condições para diversificar as fontes de rendimento do agricultor e aumentar o número de clientes, nomeadamente em actividades ligadas ao turismo em espaço rural.

É nosso desejo que deste convívio se retirem benefícios mútuos e se incentive o aparecimento de mais explorações em que o respeito pelo equilíbrio dos ecossistemas seja a nota dominante, independentemente dos subsídios que estejam disponíveis, sensibilizando os consumidores para a necessidade destes assumirem um papel mais activo na salvaguarda de valores que são um garante do seu bem-estar pessoal e da preservação dos ambientes naturais.

Ana Firmino
 




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