quinta-feira, 30 de abril de 2009

Bill Bryson e a Breve História de Quase Tudo

Bem-vindo. E parabéns. Ainda bem que chegou até aqui. Não foi fácil, eu sei. Para dizer a verdade, suspeito mesmo que terá sido um pouco mais difícil do que pensa.
Em primeiro lugar, para que o leitor esteja aqui agora, foi preciso que triliões d e átomos errantes tenham conseguido juntar-se, numa dança intrincada e misteriosamente coordenada, de forma a criá-lo a si. Trata-se de uma combinação tão única e especializada que nunca foi feita antes, e só vai existir desta vez. Durante muitos anos futuros (esperemos), estas partículas minúsculas irão dedicar-se sem qualquer queixume aos biliões de hábeis e
articulados esforços necessários para o manter intacto e deixá-lo desfrutar da experiência supremamente agradável, mas geralmente subestimada, a que chamamos existência.
A razão pela qual os átomos se dão a este trabalho não é lá muito clara. A nível atómico, ser o leitor não é propriamente compensador. Ou seja, apesar da atenção que lhe dedicam, os átomos não se preocupam consigo
— na verdade, nem sequer sabem que você existe. Nem mesmo que eles próprios existem. Nada mais são do que partículas sem consciência, e nem sequer têm vida própria. (Não deixa de ser ligeiramente impressionante pensar que, se você tentasse dissecar-se a si próprio com uma pinça, átomo a átomo, nada mais iria conseguir do que um monte de fina poeira atómica, da qual nem um grão alguma vez tivera vida, mas que, toda junta, era você.)
E, no entanto, durante todo o período da sua existência, a única preocupação dessas partículas será a de responder a um único impulso incontrolável: fazer com que você seja quem é.
O lado menos bom da questão é que os átomos são inconstantes, e que o seu período de dedicação a uma causa é passageiro. Muito passageiro mesmo. Até uma longa vida humana não dura mais do que umas 650 mil horas. E quando este modesto marco é ultrapassado, ou por volta dessa altura, por razões desconhecidas os seus átomos vão dispersar em silêncio, para se tornarem noutras coisas. E é o fim da história para si.
Apesar de tudo, já não é nada mau que assim seja. De um modo geral, o mesmo não acontece no universo, pelo menos que se saiba. O que não deixa de ser estranho, porque os átomos que com tão boa vontade e generosidade se agregam para formar os seres humanos aqui na Terra são exactamente os mesmos que se recusam a fazê-lo em todo e qualquer outro lugar. A vida pode ser muitas coisas, mas do ponto de vista químico, é curiosamente simples: carbono, hidrogénio, oxigénio e azoto, um pouco de cálcio, uma pitada de enxofre, uns pozinhos de outros elementos muito corriqueiros – nada que não possa encontrar numa farmácia normal – e pronto, não é preciso mais nada. A única característica especial dos átomos que o constituem a si, é o facto de o constituírem a si. E nisso consiste o milagre da vida. [introdução escrita pelo próprio autor, na edição portuguesa; mais aqui]
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