segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Ecocasa- Energia Eólica e Energia Solar (esclarecimentos de dúvidas)

(por lista ambio)

Como amiga do ambiente gostaria de tentar ter uma casa o máximo amiga do ambiente(ecocasa). Tenho projecto de vivenda em fase de apreciação na câmara.

Penso instalar um sistema de aquecimento das águas sanitárias para família de 4 pessoas, por paineis solares, aquecimento central por piso radiante (aquecido com energia solar e completo com gás ou bomba calor, etc.
Gostaria de ouvir a vossa opinião sobre a forma mais económica e com retorno do investimento mais rápido .
Está prevista uma lareira, fará sentido a instalação de recuperador de calor?

Em termos de produção de energia eléctrica através da eólica,tenho tentado o contacto com várias empresas mas ainda não consegui nenhuma resposta ou me mostram que é melhor eu não me meter nisso porque ainda é caro e não é viável. Será assim ou existe alguma empresa capacitada para o fazer a custos aceitáveis?
O meu consumo actual de electricidade em apartamento é de 45 €/mês mas isto sem aquecimento.

Se alguém quiser dar seu conselho agradeço.

Re1----------------------------------------------------------------------
Eu já tive uma caldeira em L instalada na lareira , em aço inóxidável e aquecia
a àguam mas a ideia de recuperador de calor é boa, outra questão importante é a
da calefacção de portas e janelas (usar tb vidros duplos) para evitar as perdas
de calor no tempo frio; por outro lado eu já vi na net uma empresa portuguesa a
vender uma eólica de 4,5 m para a instalação num prédio ou vivenda...seja como
for o melhor é fazer uma pesquisa no google sobre energias renováveis (solar
fotovoltaico, eólica)..Tb s espera para breve nova legislação q facilitará os
processo de ligação à rede da micro geração( processo q é mais económico p uma
cas já construida; no caso duma casa a construir podes pensar em instalar
paineis fotovoltaicos e mini eólica, mais a instalação de baterias p acumulação
além d conversor p 220 volts d modo a ligar electrodomesticos). Note*s q a
utilização da energia solar passiva tb conta: orintar a casa para ficar virada
para Sul...)

Re2

Vou dar uma ajuda com exemplos reais de sucesso, no entanto não vou referir empresas porque estes exemplos já tem alguns anos e por isso é natural que hoje em dia a oferta seja muito mais diversificada.
Numa casa de férias tive instalado um gerador eólico com pás de cerca de 1,2m a carregar um sistema de baterias. Isto já foi há uns bons anos por isso a instalação e desenho do sistema foi feita por pessoas não especializadas (a minha familia, basicamente). Sendo uma casa de férias o principal problema com que nos deparamos foi na manutenção das baterias pois acabavam por se estragar devido à falta de "descarga" (é como estarmos sempre a ligar e desligar o carregador do TLM sem o usarmos). A certa altura, optei por baterias "secas" pois a evaporação da água destilada era outro problema. Isto resolveu parcialmente a questão. Quando lá estava a passar férias as baterias davam-me autonomia para toda a iluminação da casa e pequenos electrodomesticos. Hoje em dia não tenho o gerador pois numa noite de ventania partiu uma das pás :( !
Ou seja, para casas com usos não continuos é conveniente montar um sistema de gestão das baterias para que estas não carreguem de mais nem de menos.

Um outro amigo meu tem uma casa (primeira habitação) onde com alguns paineis fotovoltaicos e baterias consegue ter autonomia para a iluminação e pequenos electrodomesticos o ano todo!
Na minha opinião o ideal é ter os dois sistemas (eolico e fotovoltaico). Não concordo com os pareceres que recebeu das tais empresas sobre a (in)viabilidade destes sistemas.

re3---------------------------------------------------------------------------------
Vou dar os conselhos que posso, não especificamente sobre eólicas e solar mas mais
gerais. Parto do princípio que tem arquitecto. Se tiver (e devia ter) cabe-lhe a ele,
também, uma parte significativa deste aconselhamento e desta pesquisa. Não disse
para que parte de Portugal se destina a habitação e isso teria sido importante.

1º - O pior que há a cuidar numa casa tem a ver com humidade e não com
temperatura. A humidade é que provoca doenças, deterioração dos materiais, e faz
com que a sensação de frio seja mais difícil de suportar. Paredes húmidas, águas
infiltradas, é o pior de tudo. Neste sentido há que observar bem o local de implantação
para ver se não vai construir sobre uma linha de água. As linhas de água do terreno
podem ser subterrâneas e não se verem com facilidade. Mas um arquitecto tem a
obrigação de saber analisar o declive do terreno e dos terrenos próximos, além do seu
tipo, para ter alguma ideia sobre este assunto. No entanto, na época do verão, e,
sobretudo, nestes últimos anos sem água, pode não haver indícios dela no terreno
mas vir a manifestar-se depois com tempo mais chuvoso. É sempre boa ideia
consultar as pessoas mais antigas da localidade, caso tenha dúvidas sobre o
comportamento da terra com tempo húmido.

O melhor revestimento para as paredes interiores é o estuque feito à maneira antiga,
que não é o que hoje em dia se usa mais. Este estuque absorve a humidade
excedente, fica sempre com aspecto seco.

Aliás, aparte alguma excepção, acho que os materiais tradicionais da região serão
provavelmente os melhores. Atenção que há equipas de construção que já não sabem
trabalhar com materiais tradicionais e impingem sistematicamente os processos que
para eles são mais rápidos.

2º - Tanto quanto sei (mas o que sei está pouco actualizado no que respeita a
materiais actuais) os materiais isolantes também podem evitar o arejamento
conveniente da casa. Em qualquer situação (se a casa fosse minha era isso que
achava) o mais importante tem a ver com arejamento, porque a casa precisa de
respirar. Os nossos corpos libertam humidade para além daquela que provocamos na
cozinha ou na casa de banho.

3º - A questão da temperatura (logo do ambiente) passa por evitar tudo o que são
pontes térmicas. Há um processo de construção que é muito comum usar em que uma
das paredes (em paredes duplas) de tijolo passa por fora dos pilares, tapando-os face
ao exterior e, assim, evitando o contacto directo com o interior através do pilar. Isto
provoca paredes mais grossas do que é normal (actualmente) e, eventualmente, uma
laje mais saliente que os pilares. Foi assim que construí a minha casa e nunca me
arrependi.

Quanto mais vidro tiver (mesmo que seja duplo) maiores serão as amplitudes térmicas
nas salas correspondentes. Os tradicionais alpendres, virados a sul ou a poente, as
palas, as árvores de folha caduca à frente da casa, são óptimas formas de evitar o sol
no verão e de o fazer entrar no Inverno. Mas, como já fez o projecto, pouco poderá
alterar. E, note bem, no projecto e na definição de materiais, está uma boa dose do
equilíbrio térmico da casa. O princípio essencial para manter a temperatura de uma
casa está na relação entre a superfície exterior (paredes e cobertura) e o volume de ar
interior. Quanto menor for a extensão da superfície menos trocas se fazem com o
exterior e quanto maior for o volume de ar maior será a inércia térmica. Seguindo esta
ideia o cubo é a forma ideal.

Note também bem: A questão da sensação de frio e de calor, é subjectiva. Varia
consoante o grau de humidade. Além de que varia muito consoante os hábitos de vida
dos seus habitantes. O melhor para enfrentar o frio e o calor é aceitar que são coisas
naturais e que o nosso corpo tem a capacidade de lidar com amplitudes térmicas. É
aqui que devia começar o “ambientalismo”. Essa é a minha opinião e já a tenho
comunicado frequentes vezes nesta lista.

Para além de tudo o que possa incluir, na construção da casa, ambientalmente
correcto – painéis solares, eólicas, recuperadores de calor (a lareira simples não é um
aquecimento eficiente) – deve capacitar-se que cada casa tem zonas e que haverá
sempre uma zona mais fresca, boa para os dias de verão, e outra mais quente, boa
para os dias de Inverno.

Pela razão acima, as casas antigas, em que o espaço não era um problema de
dinheiro, tinham mais do que uma sala de estar. Lembro-me que na casa dos meus
avós era hábito mudar a localização dos quartos e salas consoante as estações de frio
ou de calor. Isto dentro de Lisboa numa casa imensa claro está. Sei que não é hoje
comum abordar a habitação enquanto espaço espacialmente mutável. Porque há a
limitação constante das áreas.

Mas a polivalência dos espaços é muito importante para esta coisa do frio e do calor.
Porque permite “fugir” para as zonas mais frescas da casa no verão ou para as mais
quentes no Inverno. Cada casa tem sempre uma zona melhor para cada estação do
ano.

O problema fundamental da temperatura é querermos tudo:

A – que os nossos corpos não tenham o trabalho de se adaptar (e esta preguiça
pagamos caro com a doença)

B - que os nossos corpos vistam o vestuário da moda, frequentemente pouco ajustado,
na forma como nos materiais, às temperaturas extremas. A lã pura já caiu em desuso
assim como as fibras naturais são constantemente suplantadas pelas artificiais. E é
sabido que os sintéticos não proporcionam o mesmo grau de arejamento e/ou de
aquecimento.

C – que cada espaço da casa esteja “bem” em todos os dias do ano.

Com estas exigências máximas torna-se difícil, na minha opinião, manter a utilização
dos materiais e da energia em níveis, de facto, ambientalmente sustentáveis. O que se
faz é protelar a entrada no abismo...

Pode encontrar mais informação, e melhores, neste documento Arquitectura Bioclimática(pdf)

Agradeço esta postagem a Dulce Neto, Paulo Andrade e Tiago Pais e Manuela Soares

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