sexta-feira, 24 de dezembro de 2004

E ainda a Amazónia

Durante um debate numa universidade nos Estados Unidos o Ministro da Educação do Brasil, em 2004, CRISTOVAM BUARQUE, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazónia (ideia que surge com alguma insistência nalguns sectores da sociedade americana e que muito incomoda os brasileiros). Um jovem americano fez a pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um Brasileiro. Esta foi a resposta do Sr.Cristovam Buarque:

De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra ainternacionalização da Amazónia. Por mais que nossos governos não tenhamo devido cuidado com esse património, ele é nosso.Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazónia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudoo mais que tem importância para a humanidade. Se a Amazónia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada,internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro...
O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazónia para o nosso futuro.Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar oudiminuir a extracção de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesmaforma, o capital financeiro dos países ricos deveria serinternacionalizado. Se a Amazónia é uma reserva para todos os sereshumanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de umpaís. Queimar a Amazónia é tão grave quanto o desemprego provocado pelasdecisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar queas reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpiada especulação.Antes mesmo da Amazónia, eu gostaria de ver a internacionalização detodos os grandes museus do mundo.

O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidaspelo génio humano. Não se pode deixar esse património cultural, como opatrimónio natural Amazónico, seja manipulado e destruído pelo gosto deum proprietário ou de um país.Não faz muito tempo, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, umquadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milénio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades emcomparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu achoque Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada.

Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cadacidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveriapertencer ao mundo inteiro.Se os EUA querem internacionalizar a Amazónia, pelo risco de deixá-lanas mãos de brasileiros, internacionalizemos também todos os arsenaisnucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes deusar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior doque as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

Nos seus debates, os actuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundoem troca da dívida.Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como património que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazónia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres domundo como um património da Humanidade, eles não deixarão que elastrabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas,enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazóniaseja nossa. Só nossa!

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Porque acho é muito importante ... mais ainda, porque foi censurado.

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