sexta-feira, 31 de dezembro de 2004

Mensagem Ano Novo


Procura e maravilha-te sempre: uma luz, um quadro, uma árvore, uma pessoa, um som.
Vê o Sol e põe azul do firmamento e do mar nos teus olhos, na tua boca, nos teus ouvidos e nas tuas mãos.
Abraça quem mais amas.
Vamos ao rio agradecer a água, vamos à floresta agradecer o ar, vamos ver as plantas e agradecer a germinação e os frutos saborosos que nos dão.
Rodeemo-nos de animais e de humanos em recreio.
Abre sempre as tuas mãos, o teu coração e a tua mente.
A tua perdição é ter a certeza de tudo, é a discriminação e o egoísmo.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

Albert Camus- O Homem não é nada em si mesmo

"O homem não é nada em si mesmo. Não passa de uma probabilidade infinita. Mas ele é o responsável infinito dessa probabilidade."- Albert Camus

A baleia azul é o maior animal de todos os tempos.
Imagem: Harry Wilson

terça-feira, 28 de dezembro de 2004

A Mulher e o Meio Ambiente

Leitura obrigatória A Mulher Rural é a guardiã dos segredos da terra e do conhecimento agrícola popular.

Site aconselhado

O género e segurança alimentar

COP1 – Berlim, Alemanha (março/abril de 1995)


Durante a COP1 em Berlim, contando com representantes de 117 países, foi estabelecido o Mandato de Berlim, que teve como foco principal o consenso de todos os países em se tomar ações mais enérgicas quanto à mitigação do efeito estufa.

Entre outras resoluções, definiu-se que o compromisso dos países desenvolvidos em reduzir suas emissões para os níveis de 1990, até o ano de 2000, não seria suficiente para se atingir os objetivos de longo prazo da Convenção. Nesse sentido, as Partes consentiram que deveria ser elaborado um protocolo ou instrumento com comprometimento legal entre elas, que tornasse oficial a questão, tendo como prazo definido para a apresentação do documento o ano de 1997.

Foi decidido ainda que seria adotado o uso de “atividades implementadas conjuntamente” 1 , em fase piloto, como alternativa para o cumprimento dos objetivos de redução de emissões.

Em resposta ao Mandato de Berlim e com objetivo do fortalecimento do compromisso dos países desenvolvidos em reduzir suas emissões, foi então criado o grupo Ad Hoc sobre o Mandato de Berlim – AGBM, que iniciou o esboço de um protocolo que, após oito encontros, foi encaminhado a COP3 e culminou na adoção do Protocolo de Quioto.

Foi durante esta Conferência das Partes que se aplicou, plenamente, o mencionado “princípio da igualdade entre os países”, ou “princípio da responsabilidade comum, porém diferenciada entre os países”, impondo-se, desta forma, que os países desenvolvidos tomem a iniciativa de reduzir suas emissões, na medida em que os países em 1 em inglês: Activities Implemented Jointly – AIJ desenvolvimento possam aumentar suas emissões para atender às suas necessidades de desenvolvimento e alívio da pobreza.

Saiba mais sobre a COP1

segunda-feira, 27 de dezembro de 2004

Ajuda precisa-se e prevenir também

Muito há a fazer ainda no que diz respeito à prevenção de riscos naturais e a uma escala verdadeiramente global e democrática...morrem mais gente que pelo "terrorismo"...

Sistema de Prevenção Teria Salvo Milhares de Vidas
Segunda-feira, 27 de Dezembro de 2004

Um sistema de prevenção como o que existe nos países do Pacífico teria ajudado a salvar grande parte das milhares de vítimas que morreram na sequência do maremoto e dos tsunamis ontem corridos no sudeste asiático, afirmou um responsável do Centro Geológico norte-americano, citado pela Reuters.

A verdade é que nenhum dos países mais afectados, incluindo a Índia, a Tailândia, a Indonésia e o Sri Lanka, possui um mecanismo de alerta de tsunamis ou instrumentos de medição das marés.

O facto de a ocorrência de tsunamis ou de ondas sísmicas ser extremamente rara no Oceano Índico contribuiu também para que as pessoas não estivessem cientes da necessidade de se abrigarem nas terras mais interiores, depois de se registarem tremores de terra.

"Tanto no Japão, como na Califórnia, as pessoas são ensinadas a saírem das localidades costeiras", explica um sismólogo norte-americano. Os tsunamis são gerados por um tremor de terra debaixo da água e as ondas demoram 20 minutos a duas horas a formarem-se. Ou seja, continua este especialista, há tempo para evacuar as pessoas.

Os sistemas de prevenção de tsunamis existem nos países do Pacífico, designadamente nos Estados Unidos, que tem centros no Havai e no Alasca. Mas nenhum destes monitoriza a região do Oceano Índico. Estes mecanismos lançam o alerta de que ondas potencialmente destrutivas podem atingir as costas dos países no prazo de três a 14 horas.

Vários cientistas ouvidos pela Associated Press garantiram que o tremor de terra de ontem foi registado por várias redes sísmicas, mas a inexistência de sensores de marés na região fez com que fosse impossível saber que direcção o tsunami ia tomar


sexta-feira, 24 de dezembro de 2004

E ainda a Amazónia

Durante um debate numa universidade nos Estados Unidos o Ministro da Educação do Brasil, em 2004, CRISTOVAM BUARQUE, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazónia (ideia que surge com alguma insistência nalguns sectores da sociedade americana e que muito incomoda os brasileiros). Um jovem americano fez a pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um Brasileiro. Esta foi a resposta do Sr.Cristovam Buarque:

De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra ainternacionalização da Amazónia. Por mais que nossos governos não tenhamo devido cuidado com esse património, ele é nosso.Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazónia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudoo mais que tem importância para a humanidade. Se a Amazónia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada,internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro...
O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazónia para o nosso futuro.Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar oudiminuir a extracção de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesmaforma, o capital financeiro dos países ricos deveria serinternacionalizado. Se a Amazónia é uma reserva para todos os sereshumanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de umpaís. Queimar a Amazónia é tão grave quanto o desemprego provocado pelasdecisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar queas reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpiada especulação.Antes mesmo da Amazónia, eu gostaria de ver a internacionalização detodos os grandes museus do mundo.

O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidaspelo génio humano. Não se pode deixar esse património cultural, como opatrimónio natural Amazónico, seja manipulado e destruído pelo gosto deum proprietário ou de um país.Não faz muito tempo, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, umquadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milénio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades emcomparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu achoque Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada.

Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cadacidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveriapertencer ao mundo inteiro.Se os EUA querem internacionalizar a Amazónia, pelo risco de deixá-lanas mãos de brasileiros, internacionalizemos também todos os arsenaisnucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes deusar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior doque as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

Nos seus debates, os actuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundoem troca da dívida.Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como património que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazónia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres domundo como um património da Humanidade, eles não deixarão que elastrabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas,enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazóniaseja nossa. Só nossa!

ESTE DISCURSO NÃO FOI PUBLICADO. AJUDE-NOS A DIVULGÁ-LO
Porque acho é muito importante ... mais ainda, porque foi censurado.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2004

Se cada um fizer o que quiser a curto prazo, seremos todos perdedores a longo prazo

Consumo Sustentável: um exercício de cidadania em prol do meio ambiente
Andressa Melnick Mendes, Advogada, Consultora em meio ambiente

Nos últimos anos tem-se notado uma significativa mudança na relação do homem com o meio ambiente frente ao consumismo. Os resultados econômicos passarão a depender cada vez mais de decisões empresariais que levem em conta pontos não conflitantes entre obtenção de lucro e meio ambiente, uma vez que a realidade mostra que o movimento ambientalista vem crescendo em escala mundial e, portanto, os consumidores passam a valorizar cada vez mais a proteção do meio ambiente.

Nas relações de consumo o direito à informação é imprescindível para que os consumidores conheçam mais sobre os produtos e serviços que estão a sua disposição e possam optar por aqueles que melhor se encaixem no seu modo de vida.Na fabricação de alguns produtos já se constata essa preocupação com o uso racional dos recursos naturais.

Também se observam mudanças nas informações contidas nas embalagens, conscientizando os consumidores sobre questões ambientais envolvidas na fabricação dos produtos. Consumidores de atum, por exemplo, podem optar por uma marca que tem o selo de garantia de que os pescadores utilizam técnicas que evitam a captura de golfinhos, uma vez que eles se alimentam de atum e muitos acabam morrendo ao caírem nas redes de barcos pesqueiros.Outro exemplo é o filtro de papel para café que não utiliza o processo de branqueamento na sua fabricação. Há também as mercadorias que utilizam o chamado selo verde, que é a rotulagem concedida a um produto cuja origem, processo e destinação final são ambientalmente corretos.Essa atitude dos consumidores preocupados com a questão ambiental passa a influenciar no comportamento das empresas. São pessoas que separam o lixo orgânico do lixo reciclável, que evitam comprar produtos cujas embalagens sejam feitas de materiais que gerem resíduos não-degradáveis, que consomem frutas e verduras plantadas sem o uso de agrotóxicos, que se preocupam com a questão da escassez da água potável. Pessoas que estão, muitas vezes, dispostas a pagar um pouco mais por uma mercadoria, mas que ficam com a consciência leve por saberem que adquiriram produtos que, em seu processo de fabricação, causaram o mínimo possível de danos à natureza.

Neste contexto é que entra o chamado consumo sustentável, com as mudanças no comportamento dos consumidores, bem como, no comportamento dos fabricantes, percebendo seu poder na preservação do meio ambiente, para as presentes e futuras gerações, como prevê a nossa Constituição Federal e a legislação ambiental.Felizmente, o homem tem, a seu favor, várias soluções para dispor de forma correta, sem acarretar prejuízos ao ambiente e à saúde pública. O ideal, no entanto, seria que todos nós evitássemos o acúmulo de detritos, diminuindo o consumo excessivo de embalagens e o desperdício de materiais e alimentos. Urge, portanto, colocar em prática tais preceitos.Essa proposta de consumo sustentável é uma concepção voltada para três esferas: social, ambiental e ética.

Na esfera social o conceito de consumo sustentável questiona as desigualdades entre os ricos e os pobres, argumentando que é preciso encontrar um padrão de consumo em que todos tenham as suas necessidades básicas atendidas, sem ônus ecológico. A segunda dimensão, a ambiental, baseia-se no ciclo de vida do produto, partindo das matérias-primas e chegando ao descarte, atendendo a necessidade de reduzir a degradação da natureza e a poluição. Por fim, há a preocupação ética com as futuras gerações.

É imprescindível que o poder público atue em prol desse novo padrão de consumo. Inicialmente, promovendo, de forma eficiente, o consumo racional de energia elétrica e de água, por meio de campanhas de sensibilização, a começar pelas aulas de educação ambiental nas escolas e creches, incentivando, desta forma, a formação de cidadãos conscientes, que já cresçam vendo o mundo de outra maneira e que possam passar a mensagem adiante.

A mudança nos padrões de consumo exigirá uma estratégia centrada na demanda, no atendimento das necessidades básicas da população, na redução do desperdício e no uso racional dos recursos naturais no processo de produção.O consumo sustentável pode ser visto como uma estratégia viável para a sociedade, mesmo que seja a longo prazo. Porque, como disse a ex-primeira ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, se cada um fizer o que quiser a curto prazo, seremos todos perdedores a longo prazo.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2004

A Cultura da Reutilização


Olimpio Araujo Junior

O conceito da reutilização, por mais que não percebamos, já está intrínseco em nossa sociedade, desde a criança, que prefere brincar com a caixa do que com o brinquedo, até aos pais, que reformam um antigo móvel de família, reaproveitando-o de forma útil e decorativa.

Quem nunca passou as roupas de um filho mais velho para outro filho, e posteriormente para outra criança, ou simplesmente doou ou vendeu à um brechó. Quantas pessoas procuram brechós, ou por necessidade de um produto mais barato, ou em busca de algo diferente, ou com se diz atualmente, “fashion”.

A reutilização também é cultura, principalmente quando lembramos dos famosos “sebos”, lojas onde se podem encontrar verdadeiras relíquias literárias e musicais. Um mesmo livro pode ser lido por muitas pessoas, por isso é possível afirmar que o leitor é descartável, o livro não, afinal, ele pode atravessar gerações multiplicando conhecimento, sendo reutilizado inúmeras vezes.

O que é lixo para muitos pode ser útil para outros, e mesmo nos lares mais abastados é possível encontrar um vidro de conserva guardando pregos, uma garrafa com água na geladeira ou mesmo antigos aparelhos ou utensílios utilizados na decoração interna.

Nas grandes cidades, favelas inteiras são construídas com o que para muitos é apenas lixo, e o mesmo lixo sustenta muitos de seus moradores, que dependem da coleta de materiais recicláveis para sobreviver.

Até mesmo a história estaria comprometida se alguém não tivesse guardado algo que um dia foi “útil”, depois tornou-se “dispensável”, e hoje é “antiguidade”. Em campo Magro, região metropolitana de Curitiba, é possível encontrar um museu especializado em coisas antigas ou curiosas encontradas no lixo.

Precisamos rever nosso conceito sobre o que é lixo, entendendo melhor essa dinâmica, resolveremos mais facilmente este grande problema sócio-ambiental. Na natureza, nada vira lixo, tudo faz parte de um constante ciclo de reaproveitamento. Quando aprendermos também a viver desta forma, com certeza teremos um mundo muito melhor.

terça-feira, 21 de dezembro de 2004

Boas Festas com ternura e zelando pelo Ambiente

Desejo a todos os meus amigos e leitores do BioTerra um óptimo Natal, com muita alegria, fraternidade e solidariedade e continuemos com mais energias na luta de uma EcoTerra possível. É a melhor prenda para as crianças e de todos: zelar pelo Ambiente.


Buy Nothing Christmas

segunda-feira, 20 de dezembro de 2004

"Antes que o clima mude, mudemos nós"

Quercus moderamente satisfeita com compromisso obtido

Os detalhes completos são ainda desconhecidos, mas as linhas fundamentais do acordo obtido após quase toda uma noite de negociações e ainda por aprovar formalmente este sábado de manhã, deixam os ambientalistas moderadamente satisfeitos. A intransigência da União Europeia em alguns pontos foi fundamental em todo o processo. O início da discussão do põs-2012 está efectivamente marcada para Maio de 2005 com uma ligação à Convenção das Nações Unidas e à próxima Conferência das Partes através de um Seminário de vários dias a realizar em Bona e não se está a criar um caminho paralelo para discutir as alterações climáticas.

Os Estados Unidos sempre insistiram que a informalidade deste "Seminário" deveria ser fundamental, e apesar de tal fazer parte da decisão, a ligação ao caminho formal seguido pelas Nações Unidas é assegurada. De igual forma, os Estados Unidos, que continuam a assegurar que não querem discutir
quaisquer compromissos, concordaram que a reunião de Maio terá uma componente sobre esta matéria, o que é decisivo em termos de futuro para a resolução do problema das alterações climáticas. Porém, o compromisso de discussão é ainda frágil, pelo que a satisfação é moderada. Buenos Aires
acabou por marcar politicamente mais um passo que infelizmente não teve a presença de Portugal ao mais alto nível com a ausência de governantes verificada.


Fósseis do dia são os fósseis da Conferência

As organizações não governamentais de ambiente atribuíram o primeiro, segundo e terceiro lugar dos denominados "fósseis do dia" (atribuídos aos países com pior comportamento em prol do ambiente nas negociações) aos Estados Unidos da América e à Arábia Saudita, em simultâneo, pelo sistemático boicote à discussão de acções e compromissos futuros sobre alterações climáticas.


Portugal não pode esperar mais - política sobre climáticas requer acordo de Estado supra-partidário e acções imediatas

A escalada de emissões de gases de efeito de estufa em Portugal não pára. A Quercus, no decorrer da Conferência de Buenos Aires, estimou que em 2004 vamos ultrapassar 50% a mais que em 1990, 23% acima do que o Protocolo de Quioto nos autoriza a cumprir em 2008-2012.

É inadmissível que as medidas do Plano Nacional para as Alterações Climáticas não tenham qualquer reflexo na política económica e financeira, nomeadamente no Orçamento de Estado.

É inadmissível que o consumo de electricidade e combustíveis não pare de aumentar, sem haver uma enorme campanha pública a explicar aos portugueses o que fazer em termos de gestão de procura.

É inadmissível que não se tomem as decisões em termos de política pública, nacional e municipal que se impõe, em sectores como os transportes, as residências e os serviços, explicando o desperdício enorme de dinheiro que isso vai significar para o Estado que terá que comprar licenças de emissão a
outros para compensar o nosso aumento, em vez de conseguir em grande parte tomar medidas internas com maior custo-eficácia. Do investimento na conservação de energia e em energias renováveis, às limitações do transporte individual nas grandes cidades, todos os especialistas sabem o que é preciso fazer; só falta fazê-lo.

Entre o anúncio de medidas e a realidade, a distância continua assim a ser abissal. À beira de um período de campanha eleitoral, o problema das alterações climáticas e da redução de emissões de gases de efeito de estufa, pela sua natureza transversal e importância para o ambiente, merecem um
maior protagonismo. A monitorização e a avaliação dos resultados que está a ser feita pelo actual Governo é fundamental para se perceber como estamos a fazer tão pouco. É também fundamental que Portugal na União Europeia tenha posições de vanguarda coincidentes com a liderança que no contexto mundial a UE tem revelado.

"Antes que o clima mude, mudemos nós"
(frase-chave de anúncio da COP10 em Buenos Aires)

domingo, 19 de dezembro de 2004

Mario Claudio e o Porto

Recolhi dos meus artigos este texto magnífico sobre a obra de referência de Mário Cláudio sobre o Porto - A Cidade no Bolso.Quem lê esta obra rapidamente conclui que o Porto é uma cidade em que é urgente criar memória, sob pena de se desvirtuar os segredos que ela guarda e soube co-existir com os avanços da modernidade, antes do boom imobiliário, do crescimento urbano vizinhos,da não promoção de mais alguns centros nevrálgicos, da degradação do centro histórico e dos impactos negativos do tráfego automóvel...

POR SERAFIM FERREIRA
Trata-se sobretudo de um discurso sobre a cidade por parte de quem vive perto da vista e nunca longe do coração, porque desde sempre Mário Cláudio traz consigo a "cidade no bolso", ou seja, domina as suas sombras e lugares de um modo bem pessoal desde os tempos de sua infância. Mas é ainda a forma literária de pela crónica ter sabido fixar o espaço, o tempo, os hábitos, o clima e as gentes portuenses que, por uma história fixada quase sempre no fascínio de quem melhor a conhece e nela vive ou viveu, persistem como sinais e lugares de afirmuma cidade em que é urgente criar memóriação ou negação, de perfeição ou imperfeição pelas grandezas os dentro dos seus muros. Assim, este último livro de Mário Cláudio, numa linguagem depurada, objectiva e por vezes sinuosa, mas claramente saída das entranhas, na emoção do que descreve, relembra ou evoca, é também um modo próprio de traçar ao longo das páginas de A Cidade no Bolso uma espécie de "geografia sentimental" ou "memória descritiva" do que de essencial se mantém vivo nos anais da cidade e por uma "escrita em espiral", encadeando todas referências literárias ou históricas, saber o autor de Ursa maior falar do que sente e mais o comove, do que o fascina ou mais justifica a sua louvação da cidade em que nasceu e vive há mais de cinquenta anos.

Porém, pela longínqua evocação da cidade à beira-Douro, quando se atravessa uma e outra vez a ponte dom Luiz e se estremece no balanço do tabuleiro inferior, um pouco acima dos vinte metros do nível das águas, a antiga, velha e nobre cidade, de que resta a não perdida lembrança de ter sido por estas pedras e lugares que houve nome de Portugal, ainda na presença de Vímara Peres de outros combates, ou na memória tão próxima de Camões a ter assim enaltecido: Lá na leal cidade donde teve / Origem (como é fama) o nome eterno / De Portugal, armar madeiro leve / Manda o que tem o leme do governo, permanece a memória e a presença do casario escuro e quase todo medievo, pedras, arcos e ruelas da Ribeira e do Barredo, Muro dos Bacalhoeiros, ou nas tortuosas e labirínticas ruas da Lada e da Fonte Taurina, por onde se cruzam na força de tantos outros rostos e falas, ditos e graçolas marcadas pelo modo de falar castiço e cantante, sim, as gentes do Porto, dizem os seus poetas, jornalistas, cronistas e prosadores, sempre falaram mal e muito malcriadamente, na conhecida franqueza de possuir um carácter tão peculiar como lembrava Camilo, cuja obra literária encontrou nos meios sociais e populares do Porto (e não apenas no celebrado romance Amor de Perdição) alguns profundos e claros motivos de inspiração, por entre certos sarcasmos e a declarada ternura com que sempre retratou as gentes nortenhas.

Ora, de tudo isto se fala, repito, neste discurso sobre a cidade em que Mário Cláudio nos redescobre um outro Porto sentido por dentro, nos sinais do tempo ou nas anotações referenciais que nos remetem para toda a história da cidade, mas sempre nos fala com a comoção de quem sabe do que fala e pelas palavras, numa teia de mil minudências, sabe entrelaçar ou interligar todos os fios históricos ou pessoais para fazer sair a "cidade do bolso" e dá-la a conhecer ao leitor mais distraído ou menos imbuído no "espírito do lugar" em que nasceu, vive e há-de morrer, sabe-se lá. E, se nesta leitura tão própria e única de revisitar o Porto os olhos ainda se perdem na paisagem, no incessante movimento da ponte dom Luiz ou do Freixo, e do outro lado do rio por cima do casario encastelado de Gaia, o Mosteiro do Pilar lá no alto e diante dele o Jardim do Morro de outras recordações de infância, é certo que, em passeio a pé pela zona marginal do rio, mesmo no coração da urbe, na velha zona de influência mercantil inglesa, cujos traços ainda estão visíveis em edifícios como os da Alfândega, Palácio da Bolsa ou Feitoria Inglesa, nas cercanias da praça do Infante que aqui nascera, dizem, se não pode deixar de admirar o belo mural a que Júlio Resende chamou "Ribeira Negra", no gosto de reabilitar de outra forma a memória destas gentes e lugares ribeirinhos, por entre imagens e símbolos que de longe nobilitam a presença e o entendimento da paisagem: imagens de crianças atrevidas nos segredos das águas do antigo rio, em mergulhos que se repetem nas tardes de calor, mulheres às portas no olhar dos filhos em brincadeiras desprevenidas, roupas lavadas e estendidas ao sol nas sacadas das velhas casas, antiga teia entrelaçada pelos mistérios da vida e no esquecimento de muitas outras mágoas e lamentos.

Mas do Porto sempre se revivifica esse fascínio de no inalterável correr dos séculos, em anos de canseiras ou fome, alegria ou peste, entusiasmos colectivos ou revoluções fracassadas, protestos e motins populares na defesa da própria dignidade, patenteada nas larguíssimas centenas de páginas quase todas esquecidas ou relembradas. E no propósito de reabilitar a seu modo essa memória perdida ou menos apagada, Mário Cláudio evoca com grande serenidade de escrita e de emotividade muitos dos lugares de perfeição e de opção ou alguns dos vultos mais ilustres que se destacaram na vida da cidade. Mas sem nenhum excessivo ou despropositado bairrismo literário e apenas com esse sentido de louvação e redescoberta de tudo o que do Porto por aqui se pode sempre reencontrar nas sombras e lugares de muitos passos que se perderam no fio incessante da sua História. Ou como declara Laura Castro no prefácio a este livro de crónicas publicadas em vários jornais e revistas entre 1985 e 1997 e soube coordenar com uma clara compreensão de leitura da prosa de Mário Cláudio, poder dizer-se que o autor de Amadeo não se confinou "à cidade mais antiga, avança para os arredores, imperfeitos lugares, num aproveitamento da actual dicotomia de centro histórico e área metropolitana", porque "na abordagem desses lugares malditos, infringe o autor a regra erudita de urbanidades e ruralidades, ao tratar da transição entre uma coisa e outra".

Enfim, numa colecção dirigida por Helder Pacheco, este livro de Mário Cláudio é realmente mais uma achega literária para, como aliás se afirma na contracapa, descobrir o Porto através de todos os seus meandros, encantos, sortilégios e segredos vividos no quotidiano ou ainda guardados no tempo, revisitar lugares e encontrar cidadãos, instituições e agires que marcaram épocas e afirmaram o espírito dos lugares", como forma de amar a cidade e ter com ela uma relação de tão profunda intimidade e louvação como a que se sente na leitura de A Cidade no Bolso.


Serafim Ferreira
Escritor e Crítico Literário, Lisboa. Colaborador do Jornal A Página da Educação.

MÁRIO CLÁUDIO
A CIDADE NO BOLSO
Ed. Campo das Letras / Porto, 2000.

Estamos no Antropodenial?

Dotar os animais de emoções humanas tem sido um tabu científico. Mas se não o fizermos, corremos o risco de perder algo fundamental, sobre os animais e nós.


Quando os convidados chegam ao Centro Regional de Pesquisa de Primatas de Yerkes, na Geórgia, onde trabalho, eles costumam fazer uma visita aos chimpanzés. E muitas vezes, quando ela os vê se aproximando do complexo, uma chimpanzé fêmea adulta chamada Georgia corre até a torneira para pegar um gole de água. Ela então se misturará casualmente com o resto da colônia atrás da cerca de malha, e nem mesmo o observador mais perspicaz notará algo incomum. Se necessário, Georgia esperará minutos, de boca fechada, até que os visitantes se aproximem. Então haverá gritos, risadas, saltos - e às vezes quedas - quando ela de repente os borrifa. Conheço alguns macacos que são bons em surpreender as pessoas, ingénuas ou não. Heini Hediger, o grande zoobiólogo suíço, conta como ele - estando preparado para enfrentar o desafio e prestando atenção a cada movimento do macaco - foi encharcado por um chimpanzé experiente. 

Certa vez, me vi em uma situação semelhante com a Geórgia; ela tinha tomado um gole da torneira e estava se esgueirando até mim. Eu a olhei bem nos olhos e apontei meu dedo para ela, avisando em holandês, eu vi você! Ela imediatamente recuou, deixou um pouco da água escorrer de sua boca e engoliu o resto. Certamente não quero afirmar que ela entende holandês, mas ela deve ter percebido que eu sabia o que ela estava fazendo e que não seria um alvo fácil. Agora, sem dúvida, mesmo um leitor casual deve ter notado que, ao descrever as ações de Georgia, insinuei qualidades humanas como intenções, a capacidade de interpretar minha própria consciência e uma tendência para o mal. No entanto, a tradição científica diz que devo evitar tal linguagem – estou cometendo o pecado do antropomorfismo, de transformar não-humanos em humanos. 

A palavra vem do grego, significando forma humana, e foram os antigos gregos que primeiro deram má reputação à prática. Eles não tinham chimpanzés em mente: o filósofo Xenófanes se opôs à poesia de Homero porque ela tratava Zeus e os outros deuses como se fossem pessoas. Como pudemos ser tão arrogantes, perguntou Xenófanes, a ponto de pensar que os deuses deveriam se parecer conosco? Se os cavalos pudessem fazer desenhos, ele sugeriu zombeteiramente, eles sem dúvida fariam seus deuses parecerem cavalos. Hoje em dia, os descendentes intelectuais de Xenófanes advertem contra a percepção de que os animais são como nós. Existem, por exemplo, os behavioristas, que acompanham o psicólogo BF Skinner ao ver as ações dos animais como respostas moldadas por recompensas e punições, e não como resultado de decisões internas, emoções ou intenções. Eles diriam que a Geórgia não estava tramando nada quando borrifou água em suas vítimas. Longe de planejar e executar uma trama perversa, Georgia simplesmente caiu na recompensa irresistível da surpresa e aborrecimento humano. Considerando que qualquer pessoa agindo como ela seria repreendida, presa ou responsabilizada, a Geórgia é de alguma forma inocente. 

Os behavioristas não são os únicos cientistas que evitam pensar na vida interior dos animais. Alguns sociobiólogos - pesquisadores que buscam as raízes do comportamento na evolução - descrevem os animais como máquinas de sobrevivência e robôs pré-programados colocados na Terra para servir a seus genes egoístas. Há um certo valor metafórico nesses conceitos, mas foi negado pelo mal-entendido que eles criaram. Tal linguagem pode dar a impressão de que apenas os genes têm direito a uma vida interior. Nenhuma ideia antropomorfizante mais ilusória foi apresentada desde a mania do pet-rock dos anos 1970. Na verdade, durante a evolução, os genes – um mero lote de moléculas – simplesmente se multiplicam em taxas diferentes, dependendo das características que produzem em um indivíduo. Dizer que os genes são egoístas é como dizer que uma bola de neve que cresce à medida que desce uma colina é ávida por neve. Logicamente, essas atitudes agnósticas em relação a uma vida mental em animais só podem ser válidas se forem aplicadas também à nossa própria espécie. No entanto, é incomum encontrar pesquisadores que tentam estudar o comportamento humano puramente como uma questão de recompensa e punição. 

Descreva uma pessoa como tendo intenções, sentimentos, e pensamentos e você provavelmente não encontrará muita resistência. Nossa própria familiaridade com nossa vida interior anula qualquer coisa que alguma escola de pensamento possa reivindicar sobre nós. No entanto, apesar desse duplo padrão em relação ao comportamento de humanos e animais, a biologia moderna não nos deixa escolha a não ser concluir que somos animais. Em termos de anatomia, fisiologia e neurologia, não somos realmente mais excepcionais do que, digamos, um elefante ou um ornitorrinco à sua maneira. Mesmo tais marcas presumidas da humanidade como guerra, política, cultura, moralidade e linguagem podem não ser completamente sem precedentes. 

Por exemplo, diferentes grupos de chimpanzés selvagens empregam diferentes tecnologias – alguns pescam cupins com paus, outros quebram nozes com pedras – que são transmitidas de uma geração para outra por meio de um processo que lembra a cultura humana. Diante dessas descobertas, devemos ter muito cuidado para não exagerar a singularidade de nossa espécie. Os antigos aparentemente nunca deram muita atenção a esta prática, o oposto do antropomorfismo, e por isso nos falta uma palavra para isso. Vou chamá-lo de antropodenial: uma cegueira para as características humanas de outros animais, ou para as características animais de nós mesmos. Aqueles que estão em antropodenia tentam construir uma parede de tijolos para separar os humanos do resto do reino animal. Eles continuam a tradição de René Descartes, que declarou que enquanto os humanos possuíam almas, os animais eram meros autômatos. Isso gerou um sério dilema quando Charles Darwin apareceu: se descendíamos de tais autômatos, não éramos nós mesmos autômatos? Se não, como chegamos a ser tão diferentes? Cada vez que devemos fazer tal pergunta, outro tijolo é arrancado da parede divisória, e para mim essa parede está começando a parecer uma fatia de queijo suíço. 

Trabalho diariamente com animais dos quais é tão difícil se distanciar quanto de Lucy, o famoso fóssil australopitecíneo de 3,2 milhões de anos. Se devemos a Lucy o respeito de um ancestral, isso não força um olhar diferente para os macacos? Afinal, tanto quanto podemos dizer, a diferença mais significativa entre Lucy e os chimpanzés modernos é encontrada em seus quadris, não em seus crânios. Assim que admitimos que os animais são muito mais parecidos com nossos parentes do que com máquinas, então a antropodenização se torna impossível e o antropomorfismo se torna inevitável – e cientificamente aceitável. Mas nem todas as formas de antropomorfismo, é claro. A cultura popular nos bombardeia com exemplos de animais sendo humanizados para todos os tipos de propósitos, variando de educação a entretenimento, de sátira a propaganda. Walt Disney, por exemplo, nos fez esquecer que Mickey é um rato e Donald um pato. George Orwell disfarçou os males da sociedade humana sobre uma população de gado. 

Certa vez, fiquei impressionado com um anúncio de uma empresa de petróleo que afirmava que seu propano salvava o meio ambiente, no qual um urso pardo desfrutando de uma paisagem intocada tinha o braço em volta dos ombros de sua companheira. Na verdade, os ursos são míopes e não formam pares, então a imagem diz mais sobre nosso próprio comportamento do que sobre o deles. Talvez fosse essa a intenção. O problema é que nem sempre nos lembramos de que, quando usado dessa maneira, o antropomorfismo pode fornecer uma visão apenas dos assuntos humanos e não dos assuntos dos animais. Quando meu livro Chimpanzee Politics saiu na França, em 1987, meu editor decidiu (sem eu saber) colocar François Mitterrand e Jacques Chirac na capa com um chimpanzé entre eles. Só posso presumir que ele queria insinuar que esses políticos agiam como mães macacos. No entanto, ao fazer isso, ele foi totalmente contra o objetivo do meu livro, que não era ridicularizar as pessoas, mas mostrar que os chimpanzés vivem em sociedades complexas cheias de alianças e jogos de poder que, de certa forma, refletem os nossos. Muitas vezes você pode ouvir tentativas semelhantes de humor antropomórfico nas multidões que se formam em torno da exibição de macacos em um zoológico típico. Não é interessante que antílopes, leões e girafas raramente provocam hilaridade? 

Mas as pessoas que observam os primatas acabam gritando e gritando, se coçando em exagero e apontando para os animais enquanto gritam: Tive que olhar duas vezes, Larry. Pensei que eras tu! Na minha cabeça, o riso reflete o antropodenismo: é uma reação nervosa causada por uma semelhança incômoda. Essa mesma semelhança, no entanto, pode nos permitir fazer melhor uso do antropomorfismo, mas para isso devemos vê-lo como um meio e não como um fim. Não deveria ser nosso objetivo encontrar alguma qualidade em um animal que seja precisamente equivalente a um aspecto de nossa própria vida interior. Em vez disso, devemos usar o fato de sermos semelhantes aos animais para desenvolver ideias que possamos testar. Por exemplo, depois de observar um grupo de chimpanzés longamente, começamos a suspeitar que alguns indivíduos estão tentando enganar os outros - dando alarmes falsos para desviar a atenção indesejada do roubo de comida ou da atividade sexual proibida. Uma vez que enquadramos a observação nesses termos, podemos validar previsões testáveis. Podemos imaginar exatamente o que seria necessário para demonstrar a fraude por parte dos chimpanzés. Dessa forma, uma especulação se transforma em um desafio. Naturalmente, devemos estar sempre em guarda. Para evitar interpretações tolas baseadas no antropomorfismo, deve-se sempre interpretar o comportamento animal no contexto mais amplo dos hábitos e da história natural de uma espécie. 

Sem experiência com primatas, pode-se imaginar que um macaco rhesus sorridente deve estar encantado, ou que um chimpanzé correndo em direção a outro com grunhidos altos deve estar em um estado de espírito agressivo. Mas os primatologistas sabem, por muitas horas de observação, que os macacos rhesus mostram os dentes quando são intimidados e que os chimpanzés costumam grunhir quando se encontram e se abraçam. Em outras palavras, um sorridente macaco rhesus sinaliza submissão, e o grunhido de um chimpanzé geralmente serve como uma saudação. Um observador cuidadoso pode, assim, chegar a um antropomorfismo informado que está em desacordo com as extrapolações do comportamento humano. Também é preciso estar sempre ciente de que alguns animais são mais parecidos conosco do que outros. O problema de partilhar as experiências de organismos que dependem de diferentes sentidos é profundo. Foi expresso de forma mais famosa pelo filósofo Thomas Nagel quando ele perguntou: Como é ser um morcego? Um morcego percebe seu mundo em pulsos de som refletido, algo que nós, criaturas de visão, teríamos dificuldade em imaginar. Talvez ainda mais estranha seja a experiência de um animal como a toupeira de nariz estrelado. Com 22 tentáculos rosa contorcendo-se em torno de suas narinas, é capaz de sentir texturas microscópicas em pequenos objetos na lama com o mais aguçado senso de toque de qualquer animal na Terra. Os humanos mal conseguem imaginar o Umwelt de uma toupeira de nariz estrelado - um termo alemão para o ambiente percebido pelo animal. Obviamente, quanto mais próxima uma espécie estiver de nós, mais fácil será entrar em seu Umwelt. É por isso que o antropomorfismo não é apenas tentador no caso dos macacos, mas também difícil de rejeitar com base no fato de que não podemos saber como eles percebem o mundo. Seus sistemas sensoriais são essencialmente os mesmos que os nossos. 

No verão passado, um macaco salvou um menino de três anos. A criança, que havia caído 20 pés na exibição de primatas no Brookfield Zoo de Chicago, foi resgatada e carregada para um local seguro por Binti Jua, uma gorila fêmea de oito anos de idade. O gorila sentou-se num tronco em um riacho, embalando o menino no colo e dando tapinhas em suas costas, e então o carregou até uma das portas da exposição antes de deitá-lo e continuar seu caminho. Binti se tornou uma celebridade da noite para o dia, figurando nos discursos dos principais políticos que a apontavam como um exemplo de compaixão tão necessária. Alguns cientistas foram menos líricos, no entanto. Eles alertaram que os motivos de Binti podem ter sido menos nobres do que pareciam, apontando que esse gorila foi criado por pessoas e aprendeu habilidades parentais com um bichinho de pelúcia. O caso todo pode ter sido um instinto maternal confuso, eles alegaram. O intrigante nessa enxurrada de explicações alternativas é que ninguém pensaria em levantar dúvidas semelhantes quando uma pessoa salva um cachorro atropelado por um carro. O socorrista pode ter crescido em um canil, foram elogiados por serem gentis com os animais, têm uma personalidade carinhosa, mas ainda assim veríamos seu comportamento como um ato de carinho. Por que então, no caso de Binti, seu passado foi usado contra ela? Não estou dizendo que sei o que passou na cabeça de Binti, mas sei que ninguém a preparou para esse tipo de emergência e que é improvável que, com seu próprio bebê de 17 meses nas costas, ela tenha maternalmente confuso. Como no mundo um animal tão inteligente poderia confundir um garoto loiro de tênis e camiseta vermelha com um gorila juvenil? Na verdade, a maior surpresa foi a surpresa da maioria das pessoas. Os estudiosos do comportamento dos macacos não achavam que Binti tivesse feito algo incomum. Jörg Hess, um especialista em gorilas suíço, disse sem rodeios: O incidente pode ser sensacional apenas para pessoas que não sabem nada sobre gorilas. A ação de Binti causou uma profunda impressão principalmente porque beneficiou um membro de nossa própria espécie, mas em meu trabalho sobre a evolução da moralidade e da empatia, encontrei vários exemplos de animais cuidando uns dos outros. 

Por exemplo, um chimpanzé consola uma vítima após um ataque violento, colocando um braço em volta dela e dando tapinhas em suas costas. E os bonobos (ou chimpanzés-pigmeus) são conhecidos por ajudar companheiros novos em seus aposentos em zoológicos, levando-os pela mão para guiá-los pelo labirinto de corredores que conectam partes de seu prédio. Esses tipos de casos não chegam aos jornais, mas são consistentes com a ajuda de Binti ao infeliz menino e a ideia de que os macacos têm capacidade de simpatia. O baluarte tradicional contra esse tipo de interpretação cognitiva é o princípio da parcimônia – que devemos fazer o mínimo de suposições possível ao tentar construir uma explicação científica, e que assumir que um macaco é capaz de algo como simpatia é um salto muito grande. Mas esse mesmo princípio de parcimônia não argumenta contra assumir uma enorme lacuna cognitiva quando a distância evolutiva entre humanos e macacos é tão pequena? Se duas espécies intimamente relacionadas agem da mesma maneira, seus processos mentais subjacentes provavelmente também são os mesmos. O incidente no Zoológico de Brookfield mostra como é difícil evitar ao mesmo tempo o antropodenismo e o antropomorfismo: ao tentar evitar pensar em Binti como um ser humano, nos deparamos diretamente com a percepção de que as ações de Binti fazem pouco sentido se nos recusamos a assumir intenções e sentimentos. No final, devemos perguntar: que tipo de risco estamos dispostos a correr - o risco de subestimar a vida mental animal ou o risco de superestimá-la? Não há uma resposta simples. Mas, de uma perspectiva evolutiva, a bondade de Binti, assim como a travessura de Georgia, é explicada de maneira mais parcimoniosa da mesma forma que explicamos nosso próprio comportamento - como resultado de uma vida interior complexa e familiar.

sábado, 18 de dezembro de 2004

Japan - Obscure Alternatives


Love's incentives understood
Irregular thoughts comply
And still afraid of every word
Love is unsatisfied

Zero down to zero
Submerging in every man
Zero down to zero
Catch me as best you can

Well you must know something
'Cos we're dying of admiration here
Mastering obscure alternatives

Between the dialogue lovers run
New decisions we won't decide
And still afraid of every word
Love remains unsatisfied




sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

Natal Ambiental


Nesta época festiva, a Quercus aproveita para apresentar alguns conselhos que lhe permitirão ter um Natal ambientalmente mais correcto.

Nos últimos anos a época do Natal tem-se tornado na época do consumo por excelência. Mais do que em qualquer outro período do ano, somos estimulados, influenciados, instigados, empurrados a comprar, comprar, comprar. Este consumo imediato e pouco reflectido provoca impactos ambientais graves, mas, pode também estar na origem de problemas económicos (endividamento excessivo).

Para o ajudar a contribuir para um Natal ecológico, aqui ficam alguns conselhos simples que pode levar em conta.

Vem aí o Natal…
- Para a ceia de Natal comece a habituar-se a substituir o bacalhau por outra iguaria; se não consegue mesmo resistir, adquira bacalhau de média/grande dimensão; faça o mesmo em relação ao polvo (deverá ter sempre mais de 800 ou 900 gr.).

- Adquira uma árvore de Natal artificial ou então recorra apenas a árvores vendidas com autorização (bombeiros, serviços municipais), como garantia da sustentabilidade do corte.

- Não vá em modas e tenha cuidado na aquisição dos enfeites de Natal, para que os possa reutilizar por muitos e longos anos. Pode optar por criar os seus próprios enfeites a partir da reciclagem e reutilização de materiais.

- Adquira lâmpadas energeticamente eficientes para reduzir a sua factura energética e ambiental.

- Pense naqueles que não têm possibilidade de oferecer prendas e mesmo de ter uma ceia de Natal; seja solidário com as várias campanhas que habitualmente se desenrolam nesta época.

- Esta é uma época tendencialmente fria; isole bem a sua casa de modo a reduzir os gastos com o aquecimento e também, para poupar recursos.

- Lembre-se que certas espécies animais e vegetais estão em vias de extinção. O azevinho é uma dessas espécies. Não compre azevinho verdadeiro. Existem bonitas imitações artificiais de azevinho que podem ser reutilizadas de uns anos para os outros.

O Natal e os presentes…
- Reflicta bem sobre as prendas que vai oferecer, a quem vai oferecer e qual a sua utilidade. Privilegie produtos:

a) Duráveis e reparáveis;
b) Educativos, principalmente se estivermos a falar de prendas para os mais pequenos; ofereça produtos que estimulem a inteligência, a criatividade, o respeito entre os povos e pelo ambiente;
c) Inócuos, em termos de substâncias perigosas;
d) Que não estejam embalados em excesso ou em embalagens complexas (são mais caros, misturam vários materiais e dificultam a reciclagem);
e) Úteis: é importante privilegiar a oferta de prendas que não sejam colocadas imediatamente na prateleira ou em qualquer baú esquecido no sótão.

- Gaste apenas na medida das suas possibilidades. Respeitar os seus limites de endividamento irá permitir-lhe ser mais criterioso nas suas escolhas e, logo, mais sustentável.

- Utilize os transportes públicos nas suas deslocações às compras, ou então, junte-se com amigos ou familiares num mesmo veículo e vão às compras conjuntamente; fica mais barato e sempre pode pedir opiniões quando estiver indeciso.

- Procure levar sacos seus para as compras ou tente utilizar o número mínimo de sacos possível (uma sugestão: ofereça sacos de pano para as compras).

- Adquira produtos nacionais, pois promove a economia portuguesa e reduz o impacte ambiental associado ao transporte dos produtos.

- Se pensar em oferecer um animal de estimação tenha em conta se há condições para ele viver bem e não compre animais selvagens ou em vias de extinção (opte pela adopção de um animal).

- Se optar por oferecer produtos de perfumaria, cosmética ou higiene pessoal tenha o cuidado de escolher aqueles que não fazem testes em animais (procure a lista em LPDA).

- Muitas vezes temos objectos que já não utilizamos, mas que estão em bom estado. Não os deite fora. Seleccione os que pode oferecer a instituições ou a vendas de Natal ou opte por usara a sua criatividade e criar objectos para oferecer.

Depois do Natal…
- Guarde os laços e o papel de embrulho para que os possa utilizar noutras ocasiões; muitas embalagens, caixas de prendas, papéis de embrulho podem ser utilizados pelas crianças para fazer divertidos objectos, como máscaras, porta canetas, etc.

- Separe todas as embalagens – papel/cartão; plástico; metal – e coloque-as no ecoponto mais próximo, evitando assim os amontoados de lixo que marcam o dia de Natal; este é um bom momento para verificar se foi um cidadão ambientalmente consciente nas suas compras.

- Depois das festas, vêm as limpezas. Procure reduzir a quantidade e perigosidade dos produtos de limpeza que utiliza. Prefira os biodegradáveis e/ou em recargas.

- Não deite as pilhas para o lixo, coloque sempre no pilhão. As pilhas recarregáveis são uma alternativa económica e ecológica.

- Reflicta ao longo do ano sobre a utilidade que foi dada às prendas que ofereceu.

- Mantenha-se solidário com as diversas campanhas que se vão desenrolando ao longo do ano.

Seguir estes conselhos permitir-lhe-á oferecer uma prenda a si próprio e a todos os cidadãos do mundo – um ambiente mais protegido e equilibrado.

A Quercus deseja-lhe um excelente Natal e um Sustentável ano de 2005!!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2004

Grupo Gaia alerta para um Natal verdadeiramente ecológico!


Mais um excelente contributo do GAIA – Grupo de Acção e Intervenção Ambiental, que me orgulho ser amigo de alguns activistas e que os conheci há cerca de ano e meio, num encontro sobre Ambiente no Parque da Cidade, Porto. É constituído por jovens muito simpáticos, muito proactivos e criativos.
Este ano particularmente o balanço foi extremamente positivo:
1. palestras em Escolas
2. intervenção mais activa em fóruns e encontros sobre urbanismo e ecologia socioambiental
3. estágios em ecoaldeias

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Na nossa sociedade, o Natal adquire contornos de uma verdadeira fúria consumista onde os valores que a ele presidem se encontram já distantes do seu significado original.

A gravidade da situação, para além da deturpação de uma festa originalmente filiada nos valores da partilha, fraternidade e amor, reside no facto de que esse consumo possui aos mais diversos níveis –
nomeadamente ecológico e social – repercussões extremamente nefastas, onde se pode referir como mero exemplo, entre muitos outros, as toneladas de resíduos inutilmente produzidos ou a exploração de milhares de crianças em países pobres que fabricam os brinquedos dos nossos filhos. Particular destaque adquire ainda o desaparecimento de inúmeras espécies selvagens dos seus habitats naturais devido a um crescente e criminoso tráfico de espécies animais.

Na realidade, o actual padrão e nível de consumo dos países desenvolvidos, levado a um extremo de inconsciência no período natalício, têm-se reflectido no Ambiente com consequências preocupantes:
alterações climáticas, perda de biodiversidade, extinção de espécies, poluição da água e do ar, entre outros. Embora estes problemas sejam globais, não se pode deixar de referir que é nos países subdesenvolvidos que estes têm maior impacto, países cujas populações pouco ou nada beneficiam com a exploração dos seus recursos e que estão na sua grande maioria confinados a um nível de pobreza extremo.

_______________________________________________
GAIA - Grupo de Acção e Intervenção Ambiental
Faculdade de Ciências e Tecnologia
2829-516 Caparica
tel./fax: (+351) 212949650
e-mail: _gaia@gaia.org.pt _
Gaia

quarta-feira, 15 de dezembro de 2004

Sete passos para ajudar a ANIMAL a pôr fim ao uso de animais em circos em Portugal

As imagens que foram mostradas recentemente pela Associação Animal acerca dos maus tratos a que estão submetidos os animais nos circos é chocante e faz-nos repensar na capacidade de invertermos a situação.Faça a sua parte. Ajude a ANIMAL a pôr fim ao uso de animais em circos em Portugal.
Protegendo os animais, desejando que sejam livres e defendendo noterreno os seus direitos é um passo importante para a protecção da biodiversidade e um contributo muito grande que fazemos em prol de uma Ética da Terra. !


Sete passos para ajudar a ANIMAL a pôr fim ao uso de animais em circos:



1. Sempre que identificar a actividade de qualquer circo perto de si, seja em que zona do país for, por favor tente descobrir que espécies de animais tem esse circo, quantos animais de cada espécie tem, em que condições são mantidos no cativeiro e de que maneira são treinados e usados nas actuações. Por favor, recolha esses elementos e partilhe essa informação com a ANIMAL, através de info@animal.org.pt.



2. Tente sempre registar, em fotografia ou vídeo, imagens da maneira como os animais são mantidos nas jaulas desses circos e de possíveis manifestações evidentes de violência contra esses mesmos animais nos treinos e nas actuações e, por favor, partilhe essas imagens com a ANIMAL, contactando-nos através de info@animal.org.pt.



3. Alerte a sua comunidade local, os seus familiares e o seu grupo de amigos e conhecidos para a crueldade que é manter animais em circos e usá-los em actuações circenses. Reforce, junto das pessoas com quem contacta, o apelo ao boicote aos circos com animais. Apele às escolas, empresas e outras instituições que conhece para que não organizem visitas a circos com animais.



4. Escreva para a secção de opinião dos leitores e para os editores dos jornais locais e nacionais e partilhe com os outros leitores dos órgãos de imprensa escrita que lê as razões pelas quais o uso de animais em circos deve acabar e por que se justificam estas preocupações éticas. Em www.Animal.org.pt, saiba o que sofrem os animais em circos e encontre aí a informação que precisa para ajudar a ANIMAL a expor o mal do uso de animais em circos.



5. Escreva, por e-mail, por fax e/ou por carta (via postal) para as juntas de freguesia, médicos veterinários municipais e presidentes das câmaras municipais da sua área, dizendo-lhes que manter animais em circos é errado porque atenta contra as necessidades biológicas, psicológicas e emocionais mais elementares destes animais, cuja actuação forçada em circos só se consegue pelo condicionamento e treino violentos. Escreva a estas entidades e diga-lhes que, como cidadão/cidadã e como munícipe, não quer que o seu concelho seja palco de espectáculos de circo com animais, que têm vidas miseráveis para que o seu uso seja possível, pedindo a estes autarcas que não autorizem a presença de companhias de circo com animais nos concelhos que administram.



6. Contacte a ANIMAL para obter mais informações e imagens do sofrimento dos animais em circos. Informe-se em www.Animal.org.pt e organize sessões locais de esclarecimento acerca do sofrimento dos animais que são usados em circos para que mais pessoas fiquem a saber por que razão não devem visitar circos com animais.



7. Junte-se à ANIMAL e torne-se membro de uma comunidade de milhares de pessoas que integram nas suas preocupações diárias a maneira como os animais são e devem ser tratados. Seja da espécie que ajuda. Seja da espécie ANIMAL. Contacte-nos através do info@animal.org.pt.




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A ANIMAL acredita que todos os animais – com especial destaque para os animais selvagens – não pertencem aos circos. Acredita que as características biológicas dos animais são absolutamente incompatíveis com a sua manutenção em jaulas exíguas, enferrujadas, sem higiene, onde são mantidos durante todo o tempo entre as actuações e os treinos, com alimentação e abeberamento insuficientes e irregulares. Acredita que, além do mal que é manter animais neste ou em qualquer outro tipo de cativeiro, é ainda menos aceitável treiná-los através da força do chicote ou da paulada, do uso do aguilhão eléctrico ou da electrocussão para que, por exemplo, ursos andem de bicicleta, babuínos montem póneis, tigres ou leões saltem por entre arcos em chamas ou elefantes se sustentem em duas ou numa só pata. Acredita que esta crueldade é um absurdo e que o circo ideal não tem nenhum animal. E, por fim, a ANIMAL acredita que o uso de animais em circos deve acabar. Se também acredita nisto, não visite circos com animais. Mas não se fique por aí. Junte-se à ANIMAL para defender o fim da manutenção e uso de animais em circos.


terça-feira, 14 de dezembro de 2004

A SOCIEDADE E OS PROJETOS AMBIENTAIS

A natureza é o palco das relações sociais do ser humano, além de provedora dos recursos necessários para existência da vida em todas suas formas. É impossível pensar o planeta de forma fragmentada, como se não existissem conexões entre a sociedade, a cidade e os ambientes naturais. Esse tem sido um erro constante em projetos ambientais, principalmente nos que envolvem comunidades que vivem ou dependem de áreas naturais para sua subsistência.

Muitas instituições, públicas, privadas e não governamentais, já aprenderam esta lição, mas ainda é comum encontrarmos projetos onde o ser humano é ignorado, sendo levado em consideração apenas às necessidades preservacionistas, como se pudéssemos simplesmente excluir as pessoas destes ambientes.

A mudança do comportamento social é um fator primordial para o sucesso em projetos ambientais. Porém, não existe mudança de comportamento quando a mesma é imposta. Ela tem que partir do próprio homem, que precisa entender a necessidade da proteção daquele ambiente, do qual ele também faz parte.

É comum encontrarmos projetos onde comunidades inteiras são obrigadas, de um dia para o outro, a mudar seus hábitos e sua cultura e adaptar-se à nova realidade, imposta por um estranho, que do alto de sua prepotência acredita que seu diploma o torna capacitado a decidir o que é melhor para aquela região. Alguém que não vive a realidade local, de um momento para o outro, empunha uma bandeira conservacionista, e como se fosse o dono da verdade, estabelece novas regras que quebram a rotina local. Projetos assim causam revolta da população, ameaçando a continuidade e o sucesso do mesmo.

Um bom projeto ambiental deve ser iniciado, antes de qualquer coisa, com o comprometimento e a participação da comunidade local, que precisa entender a conservação daquele determinado ambiente como algo importante para a melhoria de sua própria qualidade de vida e para seu desenvolvimento.

É um processo lento, onde é preciso entender as necessidades da comunidade e suas relações com seu ambiente antes de propor mudanças. As decisões devem sempre ser tomadas em conjunto e as iniciativas devem partir da própria comunidade, que dentro deste contexto, é a maior interessada, pois os resultados influenciarão diretamente em suas vidas. Tudo que é construído a partir de bases sólidas tem mais chances de crescer e se tornar permanente.

Não se pode, por exemplo, de um dia para o outro, proibir a utilização dos recursos de uma área, se os mesmos representam além de uma necessidade de subsistência, um hábito cultural, por mais que essa seja uma atitude necessária para proteção daquele ambiente e das espécies ali existentes. Antes de se propor uma mudança drástica, é necessário oferecer outras opções. Deve-se discutir com esta comunidade. Ouvir as necessidades das pessoas. Incentivar que novas idéias partam delas mesmas. Sensibilizá-las ao fato de que se aquela ação continuar, não só o ambiente perde, mas elas mesmas, pois em breve aquele produto ou local que mantém seu sustento pode deixar de existir.

A própria comunidade precisa entender a necessidade de mudança de seus hábitos e buscar novas alternativas para suas carências e costumes, tornando-se assim uma forte aliada na conservação do ambiente.

Devemos entender que é preciso integrar o homem ao ambiente e não excluí-lo. Se o sujeito não se sentir parte da natureza, irá degradá-la sem remorsos.

POR OLIMPIO JUNIOR
Geógrafo-ambientalista, Gestor Nacional de Conteúdo da Rede de Comunicação Ambiental EcoTerra Brasil oaj@ecoterrabrasil.com.br - Fone: (41) 232 6700 ou (41) 9212 7266

domingo, 12 de dezembro de 2004

A Infância Ideal

Uma criança é um poema vivo. Como Herberto Helder disse sobre o poema, que ele «cresce na confusão da carne, sobe ainda sem palavras»,  «cresce tomando tudo em seu regaço». Por favor, que nenhum poder destrua a criança!!

Metade das Crianças do Mundo Vive na Pobreza
Por BÁRBARA WONG
Sexta-feira, 10 de Dezembro de 2004
 

Mais de metade das crianças do Mundo sofrem de privações, que as afastam da chamada "infância ideal", lamenta Kofi Anan, o secretário-geral das Nações Unidas. Diariamente, a Convenção sobre os Direitos da Criança, assinada por todos os países, é posta em causa e violada por muitos, indica "A Situação Mundial da Infância", o décimo relatório anual feito pela Unicef (o fundo das Nações Unidas para a Infância).

O estudo confirma que um em cada dois meninos vive em situação de pobreza, sem alimentação adequada, sem acesso à educação e a água potável - em suma, privado de viver a infância como a outra metade dos que moram, muitas vezes, na mesma rua.

A Unicef contabiliza que há cerca de 2,2 mil milhões de crianças, até aos 15 anos, no Mundo. Destas, 1,9 mil milhões vivem em países em desenvolvimento. Na pobreza subsistem mil milhões de crianças e adolescentes.

As várias metas que os estados-membros da Organização das Nações Unidas se propõem cumprir até 2015 e que têm implicações directas na vida dos mais pequenos - como é a erradicação da pobreza, o acesso à educação, a redução da mortalidade infantil, o combate ao HIV/Sida - podem não ser cumpridas, já que pouca coisa tem mudado, lamenta o estudo.

"Nenhum dos objectivos será atingido se a infância continuar sob o actual nível de ataque", avisa o relatório. Há cerca de 45 países que estão muito aquém de conseguir cumprir. O Iraque destaca-se pela negativa, com um retrocesso de sete por cento (ver infografia) devido à guerra.

"Demasiados governos tomam decisões informadas e deliberadas que, na prática, prejudicam a infância", reagiu a directora-executiva da Unicef, Carol Bellamy, durante a apresentação do estudo, ontem, em Londres.

180 milhões trabalham
A pobreza tem várias faces e não é exclusiva dos países em vias de desenvolvimento. Em onze dos 15 estados industrializados sobre os quais se dispõe de dados, a proporção de crianças que vivem em lares de rendimentos baixos aumentou na última década. No topo da tabela estão Finlândia, Noruega e Suécia, com taxas de pobreza infantil de perto de três por cento. Apenas na Noruega o número baixou. No fim da lista estão México e EUA, com valores superiores a 20 por cento. Contudo, os EUA fazem parte da lista de quatro países que conseguiram fazer cair ligeiramente esta taxa.

Portugal não está nesta tabela. Os números nacionais dizem que dois por cento da população global, entre 1992 e 2002, vivia com cerca de 75 cêntimos por dia.

A pobreza reduz a capacidade das famílias e das comunidades de se ocuparem das crianças, reflecte o estudo. Por isso, à escala mundial há 180 milhões de meninos que trabalham e nas piores condições; todos os anos, 1,2 milhões são vítimas de tráfico e dois milhões, na maioria raparigas, são explorados sexualmente para fins comerciais.

Embora não os desencadeiem, os meninos vêem-se envolvidos nos conflitos e são as suas maiores vítimas. Na década de 90, dos 3,6 milhões de mortos em conflito, perto de metade (45 por cento) foram crianças.

Estas são ainda sujeitas a violência sexual, traumas, fome e doença - cerca de 20 milhões foram obrigadas a deixar as suas casas para fugir a conflitos. A Unicef calcula que, no decurso de uma guerra de cinco anos, a taxa de mortalidade infantil aumente, em média, 13 por cento.

No que diz respeito ao HIV/Sida, a Unicef volta a alertar que o vírus é a primeira causa de morte de pessoas entre os 15 e os 49 anos. No ano passado, morreram 2,9 milhões de pessoas infectadas, das quais meio milhão era crianças com menos de 15 anos. Havia ainda 2,1 milhões de crianças que viviam com o HIV.

Além de estarem infectados, os mais pequenos ficam órfãos muito cedo - em dois anos (2001 e 2003), o número de meninos que perderam um ou ambos os progenitores aumentou de 11,5 para 15 milhões, dos quais perto de 80 por cento viviam na África Subsariana.

"A pobreza nega à criança a sua dignidade, ameaça a sua vida e limita o seu potencial", resume Kofi Anan. A Unicef conclui que cabe aos países adoptarem políticas assentes na protecção dos mais novos.

Infância ameaçada-Relatório da UNICEF

sexta-feira, 10 de dezembro de 2004

Dia Internacional dos Direitos Humanos

"Dance like nobody’s watching" by Ganesh Bagal

O Dia Internacional dos Direitos Humanos é celebrado anualmente a 10 de Dezembro.
A data visa homenagear o empenho e dedicação de todos os cidadãos defensores dos direitos humanos e colocar um ponto final a todos os tipos de discriminação, promovendo a igualdade entre todos os cidadãos.

Comemoração do Dia dos Direitos Humanos
A celebração da data foi escolhida para honrar o dia em que a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou, a 10 de dezembro de 1948, a Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Esta declaração foi assinada por 58 estados e teve como objetivo promover a paz e a preservação da humanidade após os conflitos da 2ª Guerra Mundial que vitimaram milhões de pessoas.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem enumera os direitos humanos básicos que devem assistir a todos os cidadãos.
Este dia é um dos pontos altos na agenda das Nações Unidas, decorrendo várias iniciativas a nível mundial de promoção e defesa dos direitos do homem.
O dia 10 de dezembro é também marcado pela entrega do Prémio Nobel da Paz.

Comemoração do Dia dos Direitos Humanos em Portugal
Em Portugal, a Assembleia da República reconheceu a grande importância da Declaração Universal dos Direitos do Homem ao aprovar, em 1998, a Resolução que vigora até hoje, na qual deixou instituído que o dia 10 de dezembro deveria ser considerado o Dia Nacional dos Direitos Humanos.

O Dia Internacional dos Direitos Humanos foi proclamado através da Resolução 423 (V) pela Assembleia Geral da ONU, a 4 de dezembro de 1950. 

Documentos
Declaração Universal dos Direitos Humanos |ONU - Centro dos Direitos do Homem das Nações Unidas, publicação GE.94-15440. DESCARREGAR

Resolução 423 (V) da Assembleia Geral da ONU que estabelece o Dia dos Direitos Humanos | Organização das Nações Unidas [en] DESCARREGAR

quarta-feira, 8 de dezembro de 2004

A medida acertada

Governo chumbou municipalização das reservas agrícola e ecológica nacionais
ANA FERNANDES 08/12/2004

A proposta apresentada pelo arquitecto paisagista Sidónio Pardal para um novo regime jurídico da Reserva Ecológica Nacional (REN) e da Reserva Agrícola Nacional (RAN) foi chumbada pelo Ministério do Ambiente. O ministro Luís Nobre Guedes afastou a hipótese de municipalização destes instrumentos e decidiu que outra equipa fará uma nova proposta.O estudo feito por uma equipa do Instituto Superior de Agronomia liderada por Sidónio Pardal, concluído em Abril deste ano, gerou diversas críticas, embora agradasse aos autarcas. Tudo porque se defendia que estes instrumentos do ordenamento do território deviam ficar sob a alçada do município, perdendo-se assim o seu carácter nacional (ver texto nesta página). 

O ministro do Ambiente, depois de recolher diversas opiniões, entre as quais a do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável e da Comissão Nacional da REN, decidiu que a proposta não iria vingar. E aponta diversas razões: "Em primeiro lugar, não posso concordar com o facto de as reservas ecológica e agrícola perderem o seu âmbito nacional", lê-se no despacho a que o PÚBLICO teve acesso.Além disso, o ministro discorda do pressuposto de Pardal de que terão sido a REN e a RAN os responsáveis pelo desordenamento que grassa em Portugal. 

Entre outros pontos, Nobre Guedes salienta ainda o seu desacordo face à ideia "de que dentro do perímetro urbano não possam existir espaços naturais, espaços agrícolas, RAN e REN"."Não adiro à tese segundo a qual as restrições e servidões por utilidade pública tais como a REN, porquanto reduzem o conteúdo do direito de propriedade do solo de forma tão grave e intensa que podem ser consideradas como tendo um carácter expropriativo, devem estar sujeitas a indemnização", esclarece ainda o ministro.Estudo compatívelcom quadro jurídico

Com base nas críticas que faz ao trabalho de Sidónio Pardal, Luís Nobre Guedes afirma-se convicto de que "o regime da REN visa assegurar a protecção de ecossistemas e a permanência e intensificação dos processos biológicos indispensáveis ao enquadramento equilibrado das actividades humanas, constituindo uma estrutura biofísica básica do território".Por outro lado, "a RAN tem como principal objectivo garantir que os solos de maior aptidão agrícola possam ser efectivamente afectos à agricultura" e os dois regimes "devem continuar a ser encarados como regimes legais de âmbito nacional que prescrevem limitações à liberdade de modelação ou de conformação do conteúdos dos instrumentos de gestão territorial, estabelecendo para alguns tipos de bens imóveis um regime jurídico particular", acrescenta o governante. Face a estes pressupostos, Nobre Guedes determina que se faça uma ponderação, não só do estudo de Sidónio Pardal, mas também dos vários pareceres emitidos sobre este, assim como do trabalho feito em 1997 pela Comissão Nacional da REN e dos contributos de associações não governamentais, administração pública e algumas personalidades, "de forma a que venha a ser preparada uma proposta legislativa de grande consenso, num contexto de processo participado." 

Este novo estudo, ao contrário do que era criticado no que foi apresentado por Sidónio Pardal, deve ser compatível com o quadro jurídico existente. A nova proposta deve apostar na "valorização daquelas áreas, considerando, por um lado, a natureza de restrição de utilidade pública e a coerência e a lógica dos objectivos nacionais que neste domínio incumbem ao Estado, por força da Constituição, e, por outro, a necessária agilização e a fixação de usos compatíveis com tais restrições de utilidade pública", aponta ainda o ministro.A constituição da equipa encarregue de elaborar este novo documento ainda não foi divulgada

terça-feira, 7 de dezembro de 2004

Celebremos os Direitos do Homem em Terra Viva



O Globo

Ofereçamos o globo às crianças, pelo menos por um dia.
Dêmo-lo por fim para que elas brinquem com ele
Como se fosse um balão de muitas cores.
Para que elas brinquem cantando entre as estrelas.
Ofereçamos o globo às crianças.
Dêmo-lo como se ele fosse uma maçã enorme,
Um pãozinho bem quente,
Para que pelo menos durante um dia elas possam matar a fome.
Ofereçamos o globo às crianças,
Para que pelo menos um dia o globo saiba o que é camaradagem,
As crianças tirarão o globo das nossas mãos
E nele plantarão árvores imortais.

Nazime Hikmet (escritor turco) – poema retirado do livro de Jean-Louis Ducamp (1997). Os Direitos Humanos Contados às Crianças. Ed. Terramar

Há uma organização mundial que curiosamente se chama GLOBIO e que aconselho vivamente a sua consulta. Tem grande impacto pedagógico, muito dedicado ao público escolar e que possui imensos recursos na área da Educação Ambiental.

Ofereçamos o Globo às crianças!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2004

Exija firmeza da Europa na luta contra as mudanças climáticas

O setor energético é o maior responsável pelas mudanças climáticas, com 37% das emissões globais de dióxido de carbono, graças à queima de combustíveis fósseis.
Mas as empresas do setor não estão conseguindo reduzir significativamente suas emissões por meio de investimentos em novas formas de energia renovável e eficiente.
Com esse posicionamento das empresas, de não tomar medidas para combater o aquecimento global, fica evidente a necessidade de as autoridades passarem a adotar ações drásticas para exigir mudanças.

Representantes de todo o mundo estão reunidos em Buenos Aires a partir de 6 de dezembro de 2004, para discutir o Tratado do Clima. É uma excelente oportunidade para os líderes globais unirem-se na luta contra as mudanças climáticas.

A União Européia mostrou liderança no passado em questões ligadas às mudanças climáticas, com seu posicionamento favorável à legitimação do Protocolo de Kyoto. Agora você pode exigir dos líderes europeus que reduzam significativamente as emissões de CO2 antes que seja tarde demais.
Agora também podes exigir que os líderes europeus reduzam significativamente as emissãoes de CO2>

Já têm o P@assaport WWF? Conheçam-no e divulguem as iniciativas da WWF

domingo, 5 de dezembro de 2004

As Peles: uma Moda Arcaica, uma Vaidade Cruel

Ontem a ANIMAL levou a cabo mais uma acção de protesto contra as cadeias El Corte Inglés por venderem peles de animais. Não passou despercebida, foi amplamente divulgada e estiveram presentes muitos orgãos da comunicação social e ainda bem!
A propósito sugiro duas boas leituras: uma a do livro de John Coetze “ A vida dos Animais” de 2000 da Editora Temas e Debates. O autor levanta-nos muitas questões que não se prendem apenas com ligações afectivas com animais domésticos. Mostra que os animais comprovadamente têm sentimentos, que não chega apenas proteger os animais com leis e a criação de mais jardins zoológicos, preservando e lutando pela preservação dos seus habitats e devemos respeitar os animais mais conviviais com o Homem quanto à sua essência “selvagem”.
Há um outro livro, que muito me perturbou: “ A Vida de Pi” de Yann Martel. Já o leram??
Sugiro ainda que consultem uma das mais espectaculares organizações internacionais na defesa dos direitos dos animais,PETA.



sábado, 4 de dezembro de 2004

O Inventário de lixos nas praias e suas consequências....

SEGREDOS DO MAR

Quando chega o verão, nós, humanos, nos sentimos atraídos pelo mar.

Multidões se reúnem nas praias buscando um contacto com as ondas do
mar que nos proporcionam prazer e descanso. Porém, o caminhar do ser
humano deixa sua trilha fatal nas areias da praia.

Milhões de sacolas de nylon e plásticos de todo o tipo são largados na
costa e o vento e as marés se encarregam de arrastá-los para o mar.
Uma bolsa de nylon pode navegar várias dezenas de anos sem se degradar.

As tartarugas marinhas confundem-nas com as medusas e as comem,
afogando-se na tentativa de engoli-las. Milhares de golfinhos também
se confundem e morrem afogados.
Eles não têm capacidade para reconhecer os lixos dos humanos,
simplesmente, se confundem, até porque, "tudo o que flutua no mar se
come".

A tampa plástica de uma garrafa, de maior consistência do que a sacola
plástica, pode permanecer inalterada, navegando nas águas do mar por
mais de um século.

O Dr. James Ludwing, que estava estudando a vida do albatroz na ilha
de Midway, no Pacífico, a muitas milhas dos centros povoados, fez uma
descoberta espantosa. Quando começou a recolher o conteúdo do
estômago de oito filhotes de albatrozes mortos, encontrou: 42
tampinhas plásticas de garrafa, 18 acendedores e restos flutuantes
que, em sua maioria, eram pequenos pedaços de plástico.
Esses filhotes haviam sido alimentados por seus pais que não
conseguiram fazer a distinção dos desperdícios no momento de escolher
o alimento.

A próxima vez em que Você for à sua praia preferida, talvez encontre
na areia lixo que outra pessoa ali deixou. Não foi lixo deixado por
Você, porém, é SUA PRAIA, é o SEU MAR, é o SEU MUNDO e Você deve
fazer algo por eles.

Muitos pais jogam com seus filhos o jogo de: "vamos ver quem consegue
juntar a maior quantidade de plásticos?" como forma de uma
inesquecível lição de ecologia.
Outros, em silêncio, recolhem um plástico abandonado e levam-no para
suas casas, com restos do mar. Você os verá passarem sorridentes,
sabendo que salvaram um golfinho.

"Não se pode defender o que não se ama e não se pode amar o que não se
conhece".

Ajude-nos a divulgar essa mensagem.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2004

The Scientific Consensus on Climate Change, por Naomi Oreskes

SCIENCE • 3 Dec 2004

Policy-makers and the media, particularly in the United States, frequently assert that climate science is highly uncertain. Some have used this as an argument against adopting strong measures to reduce greenhouse gas emissions. For example, while discussing a major U.S. Environmental Protection Agency report on the risks of climate change, then-EPA administrator Christine Whitman argued, “As [the report] went through review, there was less consensus on the science and conclusions on climate change” (1). Some corporations whose revenues might be adversely affected by controls on carbon dioxide emissions have also alleged major uncertainties in the science (2). Such statements suggest that there might be substantive disagreement in the scientific community about the reality of anthropogenic climate change. This is not the case.

The scientific consensus is clearly expressed in the reports of the Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). Created in 1988 by the World Meteorological Organization and the United Nations Environmental Programme, IPCC's purpose is to evaluate the state of climate science as a basis for informed policy action, primarily on the basis of peer-reviewed and published scientific literature (3). In its most recent assessment, IPCC states unequivocally that the consensus of scientific opinion is that Earth's climate is being affected by human activities: “Human activities … are modifying the concentration of atmospheric constituents … that absorb or scatter radiant energy. … [M]ost of the observed warming over the last 50 years is likely to have been due to the increase in greenhouse gas concentrations” [p. 21 in (4)].

IPCC is not alone in its conclusions. In recent years, all major scientific bodies in the United States whose members' expertise bears directly on the matter have issued similar statements. For example, the National Academy of Sciences report, Climate Change Science: An Analysis of Some Key Questions, begins: “Greenhouse gases are accumulating in Earth's atmosphere as a result of human activities, causing surface air temperatures and subsurface ocean temperatures to rise” [p. 1 in (5)]. The report explicitly asks whether the IPCC assessment is a fair summary of professional scientific thinking, and answers yes: “The IPCC's conclusion that most of the observed warming of the last 50 years is likely to have been due to the increase in greenhouse gas concentrations accurately reflects the current thinking of the scientific community on this issue” [p. 3 in (5)].

Others agree. The American Meteorological Society (6), the American Geophysical Union (7), and the American Association for the Advancement of Science (AAAS) all have issued statements in recent years concluding that the evidence for human modification of climate is compelling (8).
The drafting of such reports and statements involves many opportunities for comment, criticism, and revision, and it is not likely that they would diverge greatly from the opinions of the societies' members. Nevertheless, they might downplay legitimate dissenting opinions. That hypothesis was tested by analyzing 928 abstracts, published in refereed scientific journals between 1993 and 2003, and listed in the ISI database with the keywords “climate change” (9).
The 928 papers were divided into six categories: explicit endorsement of the consensus position, evaluation of impacts, mitigation proposals, methods, paleoclimate analysis, and rejection of the consensus position. Of all the papers, 75% fell into the first three categories, either explicitly or implicitly accepting the consensus view; 25% dealt with methods or paleoclimate, taking no position on current anthropogenic climate change. Remarkably, none of the papers disagreed with the consensus position.

Admittedly, authors evaluating impacts, developing methods, or studying paleoclimatic change might believe that current climate change is natural. However, none of these papers argued that point.
This analysis shows that scientists publishing in the peer-reviewed literature agree with IPCC, the National Academy of Sciences, and the public statements of their professional societies. Politicians, economists, journalists, and others may have the impression of confusion, disagreement, or discord among climate scientists, but that impression is incorrect.

The scientific consensus might, of course, be wrong. If the history of science teaches anything, it is humility, and no one can be faulted for failing to act on what is not known. But our grandchildren will surely blame us if they find that we understood the reality of anthropogenic climate change and failed to do anything about it.
Many details about climate interactions are not well understood, and there are ample grounds for continued research to provide a better basis for understanding climate dynamics. The question of what to do about climate change is also still open. But there is a scientific consensus on the reality of anthropogenic climate change. Climate scientists have repeatedly tried to make this clear. It is time for the rest of us to listen.

References and Notes
1.
Revkin A. C., Seelye K. Q., New York TimesA1 (19 June 2003).
2.
van den Hove S., Le Menestrel M., de Bettignies H.-C., Climate Policy2(1), 3 (2003).
4.
McCarthy J. J., Ed. Climate Change 2001: Impacts, Adaptation, and Vulnerability (Cambridge Univ. Press, Cambridge, 2001).
5.
National Academy of Sciences Committee on the Science of Climate Change, Climate Change Science: An Analysis of Some Key Questions (National Academy Press, Washington, DC, 2001).
6.
American Meteorological Society, Bull. Am. Meteorol. Soc.84, 508 (2003).
7.
American Geophysical Union, Eos84(51), 574 (2003).
9.
The first year for which the database consistently published abstracts was 1993. Some abstracts were deleted from our analysis because, although the authors had put “climate change” in their key words, the paper was not about climate change.
10.
This essay is excerpted from the 2004 George Sarton Memorial Lecture, “Consensus in science: How do we know we're not wrong,” presented at the AAAS meeting on 13 February 2004. I am grateful to AAAS and the History of Science Society for their support of this lectureship; to my research assistants S. Luis and G. Law; and to D. C. Agnew, K. Belitz, J. R. Fleming, M. T. Greene, H. Leifert, and R. C. J. Somerville for helpful discussions.