domingo, 20 de junho de 2004

Como evitar os riscos de erosão induzidos pelos incêndios florestais



EVITAR OS RISCOS DE EROSÃO INDUZIDOS PELOS INCÊNDIOS FLORESTAIS
- 6 MEDIDAS PREVENTIVAS -



A primeira reacção a uma catástrofe como os fogos florestais que assolaram o país nas últimas semanas tende a ser a elaboração de grandes planos de recuperação das áreas ardidas.
Muitos desses planos nunca são implementados, caindo rapidamente no esquecimento há medida que a época de incêndios termina e os fogos deixam de ser um acontecimento mediático. No entanto, as medidas mais imediatas a implementar no terreno são por regra esquecidas.

A LPN - Liga para a Protecção da Natureza vem apresentar, uma vez mais, soluções concretas para o problema dos fogos florestais e das suas consequências.

Os incêndios florestais acarretam problemas secundários graves que se propagam no tempo.
Um dos principais está relacionado com a erosão do solo (desprotegido após o incêndio florestal) durante a época de chuvas. Apesar disso, é geral o desconhecimento por parte de muitos produtores florestais e mesmo entidades públicas sobre as medidas adequadas para prevenir ou minimizar os efeitos de erosão e perca de solo.
Muitas dessas medidas são de fácil implementação no terreno e algumas, podem e devem ser tomadas durante o processo de corte da madeira queimada. Para isso é necessário que as diversas entidades envolvidas reconheçam que o investimento a este nível mais do que justifica os benefícios que daí advêm. O esforço de alguns meses não pode ter comparação com a duração da formação de solo, medida em milhares de anos. O que for perdido hoje não poderá tão cedo ser recuperado.

O problema da erosão e da perca de solo não toca apenas a cada um dos muitos proprietários florestais portugueses que por si, trabalhando isoladamente, pouco poderão fazer para evitar tais riscos. O solo, como a floresta, é um bem de todos. É urgente e imperioso o envolvimento de todas as entidades com responsabilidade na gestão do território para a resolução deste problema.

A LPN acredita que só com o esforço concertado de proprietários, associações de produtores florestais, Juntas de Freguesia, Câmaras Municipais, Direcções Regionais de Agricultura, entre outros, se poderá evitar ou minimizar uma segunda catástrofe no início deste Inverno.
Uma catástrofe silenciosa e menos mediática que os fogos que a causam mas que pode, deve e tem, a todo o custo, que ser evitada!

Já agora, valia a pena pensar nisto...

A média de formação de solos de xisto, (solos típicos de muitas das áreas mais afectadas), prevendo-se uma erosão nula, é de:

0,03 a 0,05 cm / ano

0,3 a 0,5 cm / 10 anos

3 a 5 cm / 100 anos

30 a 50 cm / 1000 anos !!!

Um solo ideal para actividades de produção demora cerca de 7 mil anos a formar-se!!!


6 MEDIDAS PREVENTIVAS

Os riscos de erosão depois de um fogo dependem essencialmente de três factores:

declive dos terrenos afectados;

natureza geológica e pedológica do terreno;

intensidade das chuvas (particularmente as primeiras) que se seguem aos incêndios;

A intensidade das primeiras chuvas de Inverno é determinante nos efeitos erosivos ao nível do solo. Uma grande chuvada inicial terá efeitos catastróficos. Por outro lado, uma pluviosidade menos intensa favorecerá o estabelecimento de uma primeira vegetação de cobertura que diminuirá o efeito da erosão.

1. BOAS PRÁCTICAS FLORESTAIS
A primeira intervenção situa-se ao nível dos trabalhos de corte da madeira queimada. Há alguns cuidados básicos que podem e devem ser seguidos pelas empresas que procederam ao corte da madeira queimada:

- Cortar apenas o que não tem viabilidade de regenerar.
Sempre que possível deixar em pé o arvoredo afectado mas com capacidade de resistir. Neste caso atenção particular às quercíneas (Carvalho-negral, sobreiro, azinheira, carrasco).

- Cuidados a ter com a rechega (arrastamento dos toros).
Esta é a operação que mais problemas causa dado implicar a movimentação de equipamentos pesados com rodados que sulcam o solo (uns mais que outros) e o arrastamento dos toros cortados. Geralmente é efectuada de vários pontos de uma encosta para um único local de carregamento, criando situações com desenho próximo do "pé de galinha" onde os problemas de erosão são fortemente agravados. As movimentações de maquinaria sobre o terreno devem se restritas ao essencial e de modo a evitar configurações de sulcos que promovam um maior escoamento da água.

2. CRIAÇÃO DE BARREIRAS COM A VEGETAÇÃO
A vegetação queimada que após o corte é deixada no terreno pode ser aproveitada para a criação de barreiras ao escoamento da água. Usando, por exemplo, dois toços adjacentes de pinheiro como pontos de apoio, os ramos podem ser dispostos entrecruzados, como uma vedação, usando ramos mais resistentes como pontos de apoio intermédios.

3. ABERTURA DE VALAS DE RETENÇÃO
Estas valas devem ser abertas, sempre que possível, ao longo das curvas de nível à semelhança de socalcos. O seu fundo deve ser recoberto com pedras ou restos de material vegetal queimado de modo a aumentar o atrito, reduzindo assim a velocidade de escoamento da água e, logo, o seu efeito de erosão. A sua dimensão deve ser relacionada com o grau de pluviosidade prevista para a área.

4. CONSTRUÇÃO DE AÇUDES DE RETENÇÃO
O sistema de valas descrito anteriormente pode ser desenhado de modo a desaguar em pequenos açudes de retenção. Nestes pequenos charcos a água acumulada terá possibilidade de se infiltrar no solo.
A taxa de infiltração de água poderá ser grandemente aumentada com a plantação de espécies adaptadas a zonas húmidas (como o junco ou a tábua), facilmente transplantáveis.
A LPN chama, no entanto, à atenção para o facto da recolha destas plantas não dever ser feita em locais de vegetação depauperada ou em áreas protegidas e nunca de uma forma uniforme numa dada área. Deve-se sim acautelar a possibilidade de regeneração da vegetação deixando sempre muito mais do que aquilo que é retirado.

5. VALAS DE DRENAGEM COM BARRAGENS DE CORRECÇÃO TORRENCIAL
Nas linhas de escorrimento ou nas valas abertas para drenagem podem ser espaçadamente construídas barragens de correcção torrencial de construção básica, do tipo dois toros de suporte e tábuas para barrento do curso de água. A construção e dimensão destas barragens deve ter em linha de conta o caudal específico da linha de água dado que o que se pretende não é barrar de todo o escorrimento da água mas apenas retardar no tempo esse escorrimento evitando caudais tumultuosos e mantendo um fluxo de água mais ou menos regular.

6. SEMEAR ÀS PRIMEIRAS ÁGUAS
Efectuar, se possível, uma sementeira de pasto às primeiras chuvas, espalhando as sementes na zona afectada pelos fogos. Onde exequível, a sementeira aérea é de extrema eficácia. O pasto, que rapidamente crescerá, ajudará a consolidar o solo.


A Direcção Nacionalda da Liga para a Protecção da Natureza

Para mais informações:
Liga para a Protecção da Natureza - Estrada do Calhariz de Benfica, 187 - 1500-124 Lisboa
José Manuel Alho 217 780 097

Foto da ESA

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