quarta-feira, 8 de setembro de 2004

Jorge Paiva - A Biodiversidade

Estes três artigos aqui expostos foram retirados de uma publicação do livro "Ambiente e Consumo", de 1996, publicado pelo Centro de Estudos Judiciários, Lisboa. Lendo estes documentos, parecem actuais...no entanto já se passaram 8 anos!!

A Biodiversidade

O Património Biológico, isto é, a Diversidade de todos os seres vivos (Diversidade Biológica ou Biodiversidade), engloba todas as espécies vegetais, animais, fungos, micro-organismos e os ecossistemas de que fazem parte. A Biodiversidade compreende, assim, o número e a frequência dos ecossistemas, espécies e genes de um dado agregado. A Diversidade Biológica deve, pois, ser considerada a três diferentes níveis:

A Diversidade Genética, que não é mais do que a variabilidade no seio de uma espécie. É calculada pela variação dos genes de uma espécie, de qualquer taxon infra-específico (subespécie, variedade, raça, etc.), ou de qualquer população e constitui o Património Genético;

A Diversidade Específica refere-se à variedade dos organismos vivos da Biosfera, cujo número se calcula entre 5 a 10 milhões ou mais, dos quais apenas 2,5 milhões são efectivamente conhecidos (recenseados) (ca. 2 milhões de animais e 0,5 milhões de plantas, fungos e micro-organismos o que é cerca de 1/12 do número estimado por TERRY ERWIN (1991), cerca de 30 milhões de espécies de seres vivos), e que constitui o Património Específico ou Património Taxonómico;

A Diversidade dos Ecossistemas, que se refere à variedade dos habitats, das comunidades bióticas e dos processos ecológicos da Biosfera, e que constitui o Património Ecológico.

É quase inconcebível e inacreditável que, sendo a espécie humana e os outros seres vivos, tão interdependentes, a Biodiversidade esteja ainda tão mal estudada. Apesar do grande desenvolvimento científico, presentemente, ainda não é possível calcular, com uma aproximação sem grande margem de erro, a magnitude do número de espécies de seres vivos.

Como é do conhecimento geral, as florestas tropicais de chuva (Pluvissilva) são as regiões do globo onde há maior abundância de seres vivos. Por isso, a preservação desses ecossistemas, constitui uma das grandes preocupações da Humanidade. Muitos investigadores têm efectuado demonstrações, mais ou menos simples, do elevado Património Biológico dessas florestas. Assim, TERRY ERWIN pulverizou, com insecticida, uma área determinada de florestas tropicais do Brasil e Perú, para calcular o número de insectos e outros artrópodes. Seguidamente, efectuou contagens e cálculos entrando em linha de conta com outros seres e espécies com habitats subterrâneos. Estimou cerca de 30 milhões de espécies para a área de floresta tropical do globo. Portanto, só nesses ecossistemas, devem existir 20 vezes mais espécies do que as estudadas até ao presente para todo o globo.

Um outro exemplo da elevadíssima Biodiversidade das florestas tropicais, foi a demonstração feita por EDWARD WILSON. Este entomologista colheu numa árvore do grupo das leguminosas, numa floresta do Perú, 43 espécies de formigas pertencentes a 26 géneros, o que é aproximadamente igual à diversidade de formigas de toda a Grã-Bretanha.

A diversidade de árvores dessas florestas tropicais de chuva é também muito elevada. PETER ASHTON, em 10 quadrados de 1 hectare cada, na floresta de Kalimantan (Indonésia) encontrou 700 espécies de árvores, o que é sensivelmente o número de espécies arbóreas do continente norte americano.

Mas a estabilidade dos ecossistemas não depende do número de espécies. Mesmo frágeis superestruturas podem tornar-se ecossistemas robustos, desde que o Ambiente se mantenha estável de modo a suportar a sua evolução durante um longo período de tempo. Um ecossistema estável pode desmoronar-se pela perda de um pequeno número de espécies (às vezes até apenas uma), tal qual uma pirâmide de cartas de jogar.

A actividade humana tem tido efeitos devastadores na Biodiversidade e tem acelerado o ritmo das extinções.

O maior efeito da pressão humana tem-se feito sentir mais nas florestas tropicais, nas ilhas, lagos e outros ecossistemas limitados. Um exemplo foi a eliminação de metade das espécies de aves da Polinésia pela caça e destruição das florestas nativas; no século passado a Ilha de Santa Helena foi completamente desflorestada, e a maioria das espécies lenhosas endémicas perdeu-se para sempre; a Ilha do Sal (Cabo Verde) foi praticamente desertificada; centenas de espécies de peixes do Lago Victória (África Oriental), que constituem a base da alimentação e interesse económico das populações limítrofes, estão em vias de extinção, pela introdução da carpa do Nilo, etc.

Calcula-se, por exemplo, que o ritmo actual de devastação das florestas tropicais está a originar, anualmente, 0.2 a 0.3% de extinções das respectivas espécies. Há alguns exemplos concretos e localizados do ritmo da extinção de espécies provocado pela actividade humana. Por exemplo, a devastação da pluvissilva (floresta tropical de chuva) do Perú, numa simples crista montanhosa, fez desaparecer 90 espécies de plantas com flor (Angiospérmicas).

Estes valores significam uma velocidade de extinção de seres 10 mil vezes superior à que ocorreria naturalmente, sem a acção da espécie humana.

São esperadas perdas maciças de Biodiversidade se a devastação da Natureza continuar no ritmo actual.

Sem comentários: